quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Enquanto espero

Prendo a respiração... estou ansiosa. Lá vem ele de novo, querendo me encontrar no maior clima de felicidade.

Toda vez é assim. Esqueço suas trapalhadas, perdôo as ilusões do passado e acredito que ele vai chegar com alguma novidade surpreendente. Nem parece um encontro reeditado. Enquanto espero sua chegada, penso no que irei vestir pra impressioná-lo, qual o seu perfume preferido, que sempre esqueço, fico com medo de desapontá-lo e perder o tom da noite.

Repito mil vezes comigo que vai dar tudo certo dessa vez, que ele vai fazer com que meus desejos mais secretos se realizem e vai me deixar por doze meses com ar de felicidade.

Pura ilusão? Muitos dizem que sim, que não adianta simpatia, usar cor especial, fazer promessas, amarrar pedacinhos de papel com pedidos, que ele não leva em conta nada disso. Dizem que ele chega e pronto, que o resto é comigo e que ele não vai descruzar os braços pra me fazer sorrir. Mas a gente sabe e finge que não sabe. Repete os mesmos rituais, revive as mesmas esperanças, sai de casa pra encontrá-lo, acreditando que a sorte virá naquele encontro tão desejado nos últimos dias.

Por isso estou aqui, nessas últimas horas do ano, pensando nele, que tem um nome estranho, sem letras, só com quatro números, esses que irão me acompanhar nos próximos meses, todos os dias, sem falhar nenhum.

Olho-me no espelho e tento trazer pro meu olhar aquele brilho que ilumina o rosto de uma mulher quando se vê diante de alguém tão esperado. Com certeza ele irá me abraçar quando chegar e me embalar em todas as ilusões que deposito em sua chegada. Não vou pensar no que pode não dar certo. Vou desejar o melhor pra nós dois e farei de tudo pra acompanhá-lo mais uma vez, tentando ter mais calma e paciência nos dias em que passaremos juntos.

Registro em letras meus devaneios com o romance que está prestes a se iniciar e então sinto que estou preparada pra vê-lo entrar e tomar conta da minha vida, trazendo-me dias novos em novo calendário.

Passo nos lábios um tom de vermelho, combinando com o prata da roupa cuidadosamente escolhida pra seduzí-lo de imediato. Fito-me uma última vez antes de sair. Não tenho mais dúvidas. Agora sim... sinto que estou pronta pra recebê-lo.

Alcanço a rua, tentando fugir dos pingos de uma chuva fina que cai na cidade, desde que se iniciou o dia. Batendo descompassado meu coração aguarda, com alegria, pelo tão desejado 2010... que ele queira me levar por novos caminhos!
(da Série: "O amor de cada um", n.1)

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Por você

Levei um susto ontem...não tão grande, mas também não tão pequeno.

O filho mais novo volta da cachoeira com os outros dois e conta que, escorregando, se esfolou todo e bateu a cabeça em uma pedra.

A cena da chegada: ele vem andando, junto da turma dos mais velhos, com o ar da falta de graça, mas sem perder a pose. Quando se aproxima da mãe, encolhe e, ao contar o feito, começa a chorar um pouco, vindo ao encontro do abraço.

O tio médico olha, alguns palpitam, é preciso ponto, que nada, um cortezinho à toa, quase não sangra. O pai, com o jeito de sempre de achar tudo simples, tá tudo bem, é assim mesmo, faz parte, só lavar, só soprar, só esquecer...

...e mãe esquece? Essa á a parte difícil dessas histórias... mãe recomenda, não vai pra cachoeira, é perigoso, pra quê, deixa, eu quero, não tem problema, já fui antes, e vou, e vou, e tem que ir mesmo, afinal, o que o pai mais diz é “deixa o menino”, a mãe com fama de medrosa, com jeito de excesso de cuidados, tinha mesmo que deixar diante de tantos apelos.

Volta pra casa, o tio recomenda um curativo, vai ficar só uma cicatriz pequena, nem vai aparecer, tá tudo bem, curativo feito, faixa na cabeça e o filho radiante por causa da faixa, se sentindo um samurai.

Noite bem dormida, expectativa de ir pra casa da dindinha exibir a cabeça enfaixada pro melhor amigo, “o que será que ele vai achar quando me ver assim?”

...a mãe tem que rir, imagina, as crianças vivem tudo de um jeito muito diferente mesmo, a dor do machucado não era nada diante daquele contentamento às oito e meia da manhã rumo à casa da dindinha.

E só nos resta rezar pro anjo da guarda, que deve ser quem olha quando esses meninos estão soltos por aí, achando que podem passar esses sustos na gente que a gente acostuma. Será?

Ao acordar, me disse: “adoro acordar e ver minha mãe ou meu pai na minha frente, sorrindo pra mim...é o que mais gosto de ver de manhã”. Pronto! Acho que ele sabe preparar meu coração para o que vem pela frente.

Uma vez eu li em algum lugar que o Frejat escreveu “Por você” inspirado em sua filha. Fui atrás dessa história, pela vontade de deixar a música aqui...descobri que não foi nada disso, nem a letra é dele, só a música. Mas não faz mal, vou deixar assim mesmo.

Ah...esses filhos...reviram a vida da gente... Por eles, a gente acaba aceitando a vida como ela é.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Em tempos de Natal...os velhos e os novos tempos de mim

Quando escrevi sobre o Tom, achei que o blog acabou sendo invadido por uma nostalgia que, às vezes, é a minha cara. Não foi à toa que o Ignus andou confundindo minha idade.

Sou um pouco nostálgica, sim. Adoro tirar do fundo do baú lembranças de tempos que me deram prazer e viajar por elas.

Em tempos de Natal, Natal... como não pensar nisso, se a cidade inteira te avisa em luzes que estamos em dezembro?

Eu poderia escrever linhas e linhas sobre minhas lembranças, mas quero contar apenas uma: minha alegria ao desembrulhar um presente na manhã do dia 25, que trouxe enorme significado à minha vida: uma vitrolinha linda, colorida, feita sob medida pra uma criança que amava música desde sempre. Nem acreditei quando vi que agora eu tinha onde escutar meus disquinhos coloridos de histórias, que eram uma mania em tempos de minha infância. Curiosamente, não me lembro muito das músicas infantis que eu devia escutar. Mas me lembro bem, e com detalhes, da Evinha cantando “Casaco Marrom”, sem parar, na minha vitrola. Gosto tanto dessa música que ela acabou incluída em um dos meus repertórios escolhidos em tempos de show. Acho que foi uma das primeiras músicas que aprendi a cantar, antes mesmo de escrever...

Voltar aos velhos tempos de mim...por que não? “Tomar a mão da alegria e sair...”
...vou aproveitando, enquanto tenho esse tempo... acabei de saber que, nos próximos anos, estarei pesquisando de novo. Doutorado, lá vou eu mais uma vez, do meu jeito, buscando caminhos que me fazem viver os velhos e os novos tempos de mim.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Flores, letras e um jardim virtual

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."
Clarice Lispector

...como as flores, as letras também desabrocham...

...flores, letras e o desejo de cada um...que possam sempre desabrochar por esse caminho todo que temos pela frente.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Mais flores

...em tons do Ira...

Flores

No meu jardim florescem letras, músicas e uma flor da Vivi, que ela me deu de presente no domingo, lá em Viz.

Adorei. A flor virou muitas, em tons de titãs.

“Há flores em tudo que eu vejo”.

Então olhar o mundo vale a pena, desse jeito!

domingo, 13 de dezembro de 2009

Fly me to the moon

Por onde ando hoje à noite...na lua!


sábado, 12 de dezembro de 2009

Mais uma do Tom

Mais um sábado chegando ao fim.

Acabei de assistir "A CASA DO TOM – MUNDO, MONDE, MONDO", filme de Ana Jobim, "que conta a história de amor de Antonio Carlos Jobim com a música, a família e a natureza".

Nem tenho palavras, só sonhos...

Deixo pra vocês mais uma do Tom, falando de amor, revelando "segredo escondido num choro canção"

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O que vem primeiro: a arte ou a idade?

Quando escrevi sobre Tom Jobim, no post anterior, recebi um comentário do amigo Ignus, conhecido por seu blog “Falanau”, que me deixou intrigada...

Ele disse que se daria bem aqui no Prima Letra porque, apesar de só ter 26 anos, é conhecido como o Vovô da turma, por amar músicas antigas.

?????? Como assim??????

Ignus, a verdade é que na hora levei um susto e tanto. Então meu blog teria o perfil de “terceira idade”? Eu, que sempre me senti tão jovem, fui traída pelas artes, que traduziram uma idade a qual nem pertenço?

Não tenho nada contra a tal “melhor idade”, como atualmente chamam os maiores de 60, pra amenizar um pouco a mudança dos tempos, creio eu. Meu pai, com mais de 70, encontra-se em plena atividade profissional, dança semanalmente no grupo que freqüenta, dá aulas na faculdade até tarde da noite e ainda aproveita a vida diariamente entre amigos, vinhos e família, de um jeito que dá inveja a qualquer um de nós. Minha mãe passa boa parte do ano excursionando pelo mundo com um fôlego para poucos... E os dois ainda passam os fins de semana fazendo programas que agradam a ambos, para enfrentarem os dias de “feira” com mais saúde. Então, essa idade pode trazer também muito prazer aos que sabem vivê-la com gosto.

Mas, e eu? Com a pulga atrás da orelha fui fazer uma pesquisa sobre o significado do comentário do meu amigo, perguntando pra algumas pessoas o que entenderam sobre isso. Na verdade eu estava achando divertido o acontecimento, até porque se um blog não criar alguma polêmica pra gente pensar, fica meio sem graça.

A melhor resposta foi a do casal Cândido-Partana, bons entendedores da vida e de uma boa música, enquanto passávamos algumas horas juntos ontem, no Balaio de Gato... “Juliana, Tom Jobim, pra quem tem mais de 25 anos, é quase um desconhecido”

Por esta eu não esperava. Meu maestro soberano, Antônio Brasileiro, o Tom das minhas canções, já é coisa do passado?

O Ignus vai ter que voltar aqui pra me responder...e outra pergunta fica colocada: leitor, afinal, seu gosto musical revela sua idade?

Sabem o que eu penso, de verdade? Quem gosta de arte sabe a arte de se tornar cada vez mais jovem.

Ignus, venha mesmo pra nossa turma. Aqui você vai ficar muito bem acompanhado... com os tons, os chicos, os nandos, as cássias, com o melhor que qualquer idade pode nos oferecer. Basta ter criatividade!

Agora já me vou, feliz, para os velhos tempos de mim!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Aquela velha história de um desejo

O dia de hoje vai se acabando e eu não poderia deixá-lo ir sem estar aqui, entre minhas letras e emoções...

...muitas delas vividas esse ano, despertadas por encontros surpreendentes que trouxeram novidades deliciosas à minha vida.

Augusto levou-me de volta às noites da cidade, entre bares, botecos, restaurantes, cervejas, vinhos, o que culminou em uma parceria agradabilíssima em seu blog, que hoje comemorou em grande estilo uma existência que deu certo. O “Augusto no buteco” tornou-se referência pra muita gente que busca na cidade algum lugar interessante e o blogueiro cumpriu o que se propôs no início do ano, não desistindo de seu projeto nem em dias de desânimo, como ele mesmo escreveu, dando forma a mais um de seus desejos inusitados.

O blog do Rusty, descoberto quase por acaso em minhas aventuras gastronômicas, tornou-se outro ponto de parada. Hoje, ao descansar o olhar em seus escritos, encontrei um post que parece ter sido colocado ali pra me lembrar de algo quase esquecido: os 15 anos da partida de Tom Jobim, meu compositor preferido. Fiquei horas perdida entre suas canções, deixando um pouco a saudade invadir minha casa e sua voz preencher os espaços entre as janelas abertas para a noite sem chuva.

Não vou conseguir colocar um ponto final neste texto sem as minhas canções preferidas, apesar de ser quase impossível escolhê-las dentre as tantas que o Tom compôs com tanta paixão.

“Chovendo na Roseira” é uma delas, deixa-me encantada e me faz querer cantar uma tarde inteira entre amigos. Reparem no arranjo e em como as teclas do piano do Tom deslizam notas entre a voz de Elis.




“Fotografia” representa pra mim o encontro amoroso mais envolvente que alguém pode ter. O olhar entre duas pessoas fazendo com que o desejo cresça e roube os sentidos, sem que seja preciso uma só palavra pra denunciar a paixão estampada no rosto. Acho a letra maravilhosa, a música deliciosa e sempre que a escuto é como se eu estivesse me apaixonando pela primeira vez, tamanha minha predileção por esta canção.

“E há sempre uma canção
Para contar
Aquela velha história
De um desejo
Que todas as canções
Têm pra contar
E veio aquele beijo...”

“Aquela velha história de um desejo”...que podem ser muitos...descobrí-los é mesmo uma arte!

Agradeço ao André, cujo apelo me deu coragem pra abrir o baú das minhas letras e contar histórias que tem a cara de desejos tão particulares.

Deixo aqui a música registrada, entre ruídos de um bar, em homenagem ao blog do Augusto.

domingo, 6 de dezembro de 2009

A água em mim

De repente as palavras faltam e busco refúgio na música, meu “entendedor” da vida, como me disse um dia Vivi...

Por isso tantas delas espalhadas pelo blog.

Dizem do meu amor pelos amigos, dos meus medos, das minhas coragens...

As letras andaram sentindo ciúmes.

Voltei aqui pra escrever.

Passeio por essa vida “prestando atenção em cores que eu não sei o nome”, como um dia cantou Adriana Calcanhoto, e buscando pessoas que tornam meu mundo melhor.

Tanta coisa a fazer e os dias acelerados me fazem querer ir mais devagar. Ainda mais quando a gente acorda e percebe que chegou dezembro, um mês desejado, mas que traz certa melancolia de coisa inacabada sem mais tempo de voltar atrás.

O sábado foi de muita chuva. Não sei ainda direito o efeito de tanta água em mim. Acho que inundou meu coração.

Muitas coisas...tantas coisas...nenhuma possível de ser descrita aqui.

A água agora inunda também minha vida...a que desce dos olhos e a que vem do céu. Rouba-me o sono, aprisiona-me em pensamentos.

“Exponho o meu modo, me mostro
Eu canto para quem?”

sábado, 5 de dezembro de 2009

Guilherme Arantes

Minha alma hoje nessa canção.

Pra Rita

Madrugada...e meu coração pede Nando Reis...

Jeito mais lindo de se declarar a alguém.

Ele fez essa canção pra Cássia Eller, pra dizer da amizade que se iniciava entre os dois.

Um privilégio ter amigos assim, com quem podemos dividir a vida amorosamente.

Pra Rita Cândido, que compõe e combina músicas com os tons da minha voz:

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Dia Mundial de Luta contra a Aids

Voltei mais cedo do que imaginava.

Não podia deixar de registrar o dia de hoje: Dia Mundial de Luta contra a Aids.

Diga não ao preconceito! A frase pode até parecer comum, mas a dor de quem vive com HIV/Aids não. Ela é única! E forte, cada vez que alguém se depara com a rejeição.

Muitos avanços já ocorreram no combate à doença.

Por que não ajudar a acabar com o estigma?

Passe essa idéia pra frente.


segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Poucas palavras

Na semana que vem conto porque poucas palavras até lá...

Fiquem com Cássia Eller.

Volto logo.

sábado, 21 de novembro de 2009

Com alma de Madredeus

Cheguei agora do primeiro encontro de fim de ano dos muitos que o sucederão nos próximos dias, até chegarmos ao dia 31 de dezembro.

Tempo engraçado esse. Repetimos, por anos, a mesma rotina: encerramento de cursos, confraternizações entre amigos, afetos embrulhados em presentes, desafetos que disfarçam o constrangimento nos abraços de dezembro, enfim, jeito de terminar o ano na esperança de dias melhores que chegarão em janeiro e durarão todo o ano seguinte. Às vezes os dias que se encerram foram os melhores... mas a mania de querer sempre algo a mais trai a memória e lá estamos a fantasiar a vinda do futuro.

Pensando sobre isso, estou aqui a escrever com alma de Madredeus. A voz de Tereza Salgueiro soa aos meus ouvidos como presente de fim de ano. Meu desejo é o de celebrar os dias de 2009 como aqueles que me trouxeram muitas surpresas, amigos, alunos, alegrias, algumas tristezas e perdas inesperadas, proximidades com quem já vivia perto de mim e eu não percebia, incursões na vida gastronômica da cidade, tantas descobertas que me deixaram feliz, que só posso dizer do meu prazer pelo ano que começa a se despedir da gente.

“Haja o que houver...”, quero dizer aos amigos “que eu estou aqui”, pronta para 2010 e para estar ao lado de quem quiser contar comigo em seus dias.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Ei, prestem atenção neste assunto

Resolvi hoje fazer campanha.

Não se preocupem, não vou me candidatar a nenhum cargo político, não é a minha cara.

Os amigos sabem de meus últimos trabalhos e sabem o quanto me envolvi com o tema da Aids.

Mulheres e crianças vivendo com HIV/Aids foi tema do meu mestrado e nesse estudo pude avaliar questões psíquicas presentes nesse contexto, uma vez que a feminização da epidemia tornou-se realidade e atingiu a infância.

As mulheres que aparecem no vídeo abaixo falam de histórias muito semelhantes com as das mães que entrevistei.

Elas têm o nosso rosto. Como nós, vivem, amam e querem alegria em suas vidas.

Só quero pedir a vocês que pensem mais um pouco sobre isso.

Protejam-se...

...do vírus...não do prazer...nem do amor.

Podemos mudar o rumo dessa história.

domingo, 15 de novembro de 2009

Quero ouvir o Simonal

Sou fã, com força, do Simonal, do Simoninha e do Max de Castro!

Acho que meus pais deviam adorar o Simonal, pois me lembro de ouvir sua voz pela casa desde muito cedo. Recentemente, vendo o filme sobre sua história, espantei-me com a idade que eu tinha na ocasião - nova demais pra ter gravado suas músicas no coração. Mas foi exatamente o que aconteceu. Adoro ouví-lo e acho seus filhos tudo de bom. Ainda bem que ele deixou essa herança, especialíssima.

E ainda bem que hoje podemos resgatar pérolas pelas ondas da web.

"Aquilo que herdaste de teus pais conquista-o para fazê-lo teu" (Goethe, Fausto, Parte I, Cena I)

Deixo aqui as versões pai e filho de "Tributo a Martin Luther King": "Com uma canção também se luta irmão"!

Divirtam-se. Bom domingo.






sábado, 14 de novembro de 2009

Minha teimosia

Assim a vida me conquistou, pela arte... Por isso vivo mergulhada nela, em todas as suas expressões.

Nada melhor do que o gosto da conquista. Meu pai, em tempos de adolescência, costumava dizer que quando eu colocava alguma coisa na cabeça, era difícil tirar. E que eu ficava batendo na mesma tecla até conseguir.

Minha teimosia foi conquistando a vida. Ainda bem. Senão, não teria coragem pra escrever coisas do fundo de um baú tão particular e deixar aqui, às vistas.

Nada melhor do que uma noite de sexta entre sushis e amigos, como a de hoje...

Nada melhor do que uma teimosia pra me desenhar... De vez em quando... Muitas vezes é preciso ceder.

Assim fico feliz, ao som de Ben Jor...teimando em descobrir estrelas nos olhos de quem encontro!

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Saudade singular

"A saudade não é verbo
que se possa conjugar
sei que é substantivo
feminino singular
quase um verbo irregular!"
Hermínio Bello de Carvalho

Já ouviram Martinália cantando essa música? É simplesmente uma delícia. Infelizmente não encontrei nenhuma versão pra deixar aqui.

Saudade, pra mim, vem e perturba os sentidos até a gente conseguir fazer passar, o que às vezes é impossível.

Estou querendo rever pessoas que foram viver longe de mim.

Pra elas, escrevo hoje:

Minha amiga Carmel, que acabei de encontrar no skype...me faz uma falta e tanto.

Júnia, Laura e Letícia, que só aparecem de vez em quando e me deixam com meia saudade resolvida. A outra metade fica aqui, só esperando outras vindas.

Fernanda, que quando volta das terras alemãs, em férias, deixa meus dias perfeitos.

Zeppa, que aqui deu o ar da graça recentemente.

Carla, que trocou nosso japa por um ramo de alecrim.

Mauri, me enrolando com a mania de aparecer e sumir com a mesma velocidade.

Um desses meus amigos queridos continua perdido no Ceará, contrariando minhas recomendações de que viver em Minas melhora os batimentos do coração. Vamos ver até quando ele vai continuar insistindo. Pelo jeito, só indo à Jericoacoara para revê-lo.

Eu quero ir, minha gente...trocar idéias...ouvir risadas.

Dêem um jeito de aparecer por aqui...Estou mesmo com saudade.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Mudando de rota

Verdade que decidi criar esse blog pra soltar as letras guardadas no meu baú. Mas quando comecei a escrever os textos, percebi que nem sempre é fácil estar inspirada. Combinei com as letras de tentar misturá-las pelo menos uma vez por semana. Tenho ido quase nesse ritmo, às vezes com menos espaço, às vezes com mais. Mas comecei a sentir vontade de entrar aqui e de repente deixar só uma frase ou uma música ou apenas uma presença de alguma coisa que eu não queria que se perdesse por aí. Afinal, eu continuo marcando presença diária no blog do Augusto com o maior prazer, já que lá eu passo diariamente, por que não aqui também?

Decidi então mudar de rota... Ir em direção aos meus afetos, que não são poucos, pois uma leonina legítima se deixa guiar pelo coração em tudo o que faz... Tudo bem que às vezes exagera. Já viram um ser mais passional do que alguém do signo de Leão e ainda por cima do sexo feminino? Nossa! Não deve ser muito fácil ficar perto de mim em tempos de exagero!

Por isso os vôos poderão ser diferentes daqui por diante. Não vou abandonar meus textos, claro. Afinal, foi pra manter o exercício da escrita que vim parar aqui. Mas se vocês encontrarem pela frente um pedaço de letra perdida por aí, sem muita lógica, pensem que por algum motivo ela foi deixada aqui.

É isso. Ando muito interessada pela vida e por tudo o que rouba meus sentidos. Lembrando Walter Franco: “Eu quero que esse afeto saia..."

Deixo pra vocês uma interpretação genial dessa canção, com a Patrícia Ahmaral.

Perceberam? Posso até mudar de rota, mas não mudo a paixão pela música...

sábado, 7 de novembro de 2009

Pra você, o que não tem preço?

Escrevo hoje embalada pelas lembranças da infância, entre as paredes do Grande Hotel de Araxá, um dos meus lugares preferidos para reencontrar dias de prazer que nunca deixarão minhas memórias.

Adoro este lugar. Tudo aqui me faz voltar ao passado, desde a arquitetura do hotel à nostalgia que me invade e me traz cenas deliciosas das inúmeras férias passadas aqui, com meus irmãos.

Enquanto escrevo, escuto as risadas de um grupo de amigos, precisamente conselheiros do CRM, que em volta da piscina contam casos e piadas e se transformam em verdadeiros meninos, sem censura com as palavras e besteiras jogadas ao vento. Tiram fotos uns dos outros, revelam segredos e se divertem sem a menor vergonha de voltarem ao tempo das calças curtas. Como diz aquela propaganda que nunca mais vai sair do nosso pensamento, em momentos assim: “isso não tem preço”.

Assim como não tem preço se lembrar de alguma coisa que um dia nos deixou mais feliz. Talvez por isso, hoje acordei com a primeira música do Paul McCartney que me lembro de ter escutado, ecoando em sons imaginários. Minha prima, alguns anos mais velha que eu, apareceu lá em casa com um compacto com a tal música e o colocou pra tocar inúmeras vezes, como se fosse pra eternizá-la. Conseguiu. Nunca mais me esqueci da música nem daquele fim de semana. Não deu outra – em tempos de reencontros, ela reapareceu aos meus ouvidos.

Isso não deve interessar a ninguém, penso eu. Mas ao meu coração interessa. Ele passa a bater mais feliz. E assim acontece com todo mundo. Então, por que não registrar o momento entre as minhas letras? E vale ouvir a canção. Afinal de contas, os Beatles marcaram presença na vida de muita gente que circula por aí. Ou estou enganada?

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Só entra com marido

Na semana passada, ouvi algumas mulheres conversando no clube que frequento, enquanto esperava meu filho terminar a aula de esportes.

Não pensem que eu fiquei ouvindo a conversa alheia. Na verdade eu estava sentada na mesa ao lado, lendo um livro, mas elas colocaram na roda um assunto que aos meus ouvidos de psicanalista não teria como passar despercebido. E depois que inventei essa mania de brincar com as letras do meu baú, se eu não prestar atenção em coisas que despertam meus sentidos, acabo não escrevendo nada. Inspiração não cai do céu, não. Dá trabalho, como me disse um dia Mônica Sartori, relembrando uma tarde inteira de trabalho deitada na grama, olhando as nuvens, pra pintar, se não me engano, a série maravilhosa “Ponta de Asa de Anjo”. Tenho a sorte de ter uma dessa ponta de asa emoldurada no meu quarto, encantando diariamente meu olhar. Mas quando a Mônica entrou em casa e disse pra empregada que estava cansada demais de tanto trabalhar, sentiu que foi considerada meio maluca. Pela cara que encontrou como resposta, imaginou seu pensamento – “Como assim? Cansada de ficar deitada na grama, olhando o céu?” – Rimos muito dessa história.

Então, eu ali estava, trabalhando, e as mulheres, todas da “melhor idade”, como se diz hoje, indignadas com a atitude de uma pessoa que estaria coordenando alguns cursos no clube. Não sei detalhes. Mas o motivo da indignação seria o fato de que uma delas tentou se matricular na aula de dança e qual não foi sua surpresa ao saber que ela só poderia ir “se fosse acompanhada pelo marido”!!!!! Isso mesmo. “Sozinha não pode, só com o marido.” E olha que ela argumentou que no ano passado foi sozinha, não teve problema, mas a tal coordenadora foi taxativa. “As regras mudaram. Agora, só com marido”.

Tive que sentir simpatia pela reação delas. Em peno século 21, alguém ter que levar marido pra fazer aula de dança? E elas se perguntavam: “qual o problema?”, “e se eu quiser ir sozinha?” “porque tenho que fazer o que gosto só se ele for?” “Ele não gosta de dançar, vai fazer o que lá?”

Uma delas até contou que o marido disse que iria ao primeiro dia, só pra ela poder entrar, mas depois não voltava. Mas ela não quis, não ia se render a uma exigência tão descabida.

Enfim, a discussão rolava solta, e elas acabaram concluindo que a tal coordenadora não tem sensibilidade, não sabe ser feliz, nem vai durar muito no cargo, porque "não entende nada da nossa alma" e, com a seguinte frase, uma delas encerrou de vez a conversa: "A verdade é que a alegria incomoda as pessoas!"

Fiquei fã delas. Nota zero pra tal coordenadora. Que bobagem é essa de “mulher só entra com marido”?

Ando torcendo pra elas fazerem uma passeata dia desses lá no clube, reivindicando o direito de dançar a qualquer hora, de qualquer jeito, inclusive sem par. Sou capaz até de ajudar nos cartazes.

Amor é pra acrescentar!

sábado, 24 de outubro de 2009

O sorriso de Elis

Acordei hoje muito cedo para um sábado, mas tive compromissos com o filho mais novo que me exigiram isso.

Às oito e quinze eu já estava rodando e achando muito estranho o trânsito que encontrei pela frente. Não tem jeito, já não existem mais manhãs de sábado tranquilas na cidade. Fazer o que? Fugir pro interior? Não sair de casa no fim de semana? Quais as possibilidades? Exatamente às 8:33, um motorista irritado ficou buzinando atrás de mim, um segundo depois que o sinal abriu, para que eu liberasse o caminho. "Nossa, eu nem acordei direito e o outro, estressadíssimo, a essa hora da manhã! Imagine ao meio-dia. Vai acabar infartando." Pensei, tentando preservar o resto de tranquilidade que me restava, pelo menos no interior do meu carro.

Senti saudade de ouvir uma música da Elis. Acabei encontrando uma filmagem antiga, de um show no Canecão. A imagem não está muito boa, mas resolvi postá-la pra dizer um pouco dos meus desejos: acordar feliz, cantando, em tempos que era possível fazer tudo com um pouco mais de lentidão. Rever aquele sorriso dela desfaz qualquer aborrecimento que tenha atravessado nosso caminho. E enche meu coração de alegria. "Que dure pelo menos..."

Bom fim de semana pra vocês!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Você tem fome de que?

No programa do dia 20/10, Rusty Marcellini conversou com Fabiana Arreguy sobre os premiados da Vejinha Minas 2009/2010. Enviei-lhes algumas sugestões pra melhorar essa eleição, atendendo a solicitação que fizeram aos ouvintes do programa. E vocês? O que pensam sobre o assunto?
O link direciona para o programa, é só clicar e ouvir.

CBN - A rádio que toca notícia - CBN Sabores BH

E eu continuo me divertindo pelo caminho dos bares, botecos e restaurantes.
Querem saber de quem é a responsabilidade? Passem pelo blog "Augusto no buteco", que vocês irão descobrir.

Por falar em restaurante, ando nas nuvens com a reabertura do Mikado, o primeiro restaurante japonês que comecei a frequentar anos atrás, na companhia da minha amiga Rita Cândido, quando nem pensávamos em dividir uma carreira musical. Digo-lhes que ele está melhor ainda. A comida, deliciosa, ótimo atendimento e ambiente super agradável. Acho que logo vai tirar a posição do Sushi Naka de melhor japonês da cidade. Pra quem quiser conferir: Av. do Contorno, 2.419, Floresta, (31) 3222-4948. Aberto de segunda a sábado, das 19h à 1h.

Como já disseram os Titãs:

"a gente não quer só comida
a gente quer comida, diversão e arte.
a gente não quer só comida,
a gente quer saída para qualquer parte.
a gente não quer só comida,
a gente quer bebida, diversão, balé.
a gente não quer só comida,
a gente quer a vida como a vida quer"

E eu? Assino em baixo!

Quanto à carreira musical, fica aqui um convite a Rita para colocarmos em cena nossa parceria. Um retorno bem vindo, que eu adoraria, como o do Mikado.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Tiraram o doce da minha boca!

O texto de hoje é, na verdade, um grande protesto à saída da Viviane Zandonadi da CBN, com seu programa diário “Turismo e Gastronomia”.

Sabe quando você elege um doce preferido, come sempre e nunca enjoa, de tão bom, conta as horas pra que chegue o momento da sobremesa e sente enorme prazer com o sabor da descoberta, que passa a fazer parte da sua vida?

Pois é... Que me perdoem os leitores que acharem minhas palavras um tanto açucaradas, mas hoje acordei com gosto amargo na boca porque dela me tiraram o doce e eu não fiquei nem um pouco feliz com isso. Por isso resolvi protestar, “letrando” minha decepção.

Levo meu filho à escola logo depois do almoço e o trânsito nesse horário costuma ser bem indigesto, tornando um martírio, às vezes, uma obrigação diária que poderia ter outro sentido entre pais e filhos. Acabei descobrindo o programa da Vivi nesse trajeto – e arrisco a chamá-la assim tamanha proximidade que ela provocava nos ouvintes com seu jeito espontâneo de dizer as coisas – o que mudou completamente o início das minhas tardes. Não é só porque ela falava sobre turismo e gastronomia, temas sempre interessantes, mas pelo jeito que ela falava. Pra começar, o programa trazia em seu início uma música escolhida por ela a dedo. Cada preciosidade que vocês não imaginam existir. Para os que me conhecem e sabem o que significa música em minha vida, já deu pra perceber que fui capturada de cara pelo seu bom gosto. Depois, as dicas sobre lugares pra ir a dois, com amigos, com crianças, com o coração, com o desejo e tudo mais que podemos levar pra passarmos horas de puro deleite, longe da confusão que a cidade nos apresenta. Às vezes o lugar estava lá mesmo, na cidade confusa, mas de tão bom conseguia nos transportar para fora dela, e saber de sua existência pela Viviane era como descobrir segredos que a cidade esconde. Os pratos, as comidas, os pecados... (Lembra, Vivi, do programa sobre as coxinhas? Fez tanto sucesso que o Sardenberg perdeu a conta de quantos e-mails teve que ler no ar). Enfim, só mesmo os ouvintes assíduos como eu sabem o que significa o término do programa. Lamentável, escreveu um deles, absurdo, outro... Inacreditável, escrevo eu, que agora tenho que encontrar um início de tarde sem graça e sem gosto e reinventar meu caminho entre o mar de carros, com a decepção de ter tido o doce preferido tirado da minha boca, sem saber de quem foi a responsabilidade por uma decisão tão equivocada. Sei que tal decisão não partiu dela e que ela também está lamentando o fim do programa, dizendo no blog do TG que: “Não dá para explicar o inexplicável, mas tem uma carta de despedida...”

Não, Vivi, não quero me despedir. Mais uma vez protesto. Ainda bem que você criou um blog pra que a gente não fique tão só nas tardes da cidade... E lá você está inteira, com sua maneira delicada e elegante de expor idéias, escolhas, músicas, filmes e tudo mais que te interessa compartilhar com seus ouvintes.

Tenho uma amiga que disse achar minha idéia de virar blogueira um ato de coragem e tanto, já que a gente acaba expondo o coração a céu aberto pra quem quiser nos ler. Deve ser mesmo. Mas acho que vale a pena. Se vocês entrarem no blog da Viviane, listado em minhas preferências, irão encontrar ali alguém que tem coragem de pintar na tela de um computador as cores que escolhe pra dar mais vida à vida. Ali, ela escreveu: “... não entendo a vida sem música...” Vivi, eu também não. E também não entendo a CBN sem você. Boa sorte e continue seu trabalho, que me abriu outras janelas pra que eu alimente minha coragem de estar aqui.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Cadê a criança que estava aqui?

“O tempo comeu!”...
Será esta a melhor resposta? Acho que sim, literalmente. O tempo que se vai com os anos e o tempo de brincar, que se transforma em tempo de tantos compromissos que a gente, muitas vezes, perde a noção de como é bom se esquecer do mundo por algumas horas, envolvendo-se com o que nos traz prazer.

Não era assim no tempo da infância? De repente um silêncio pela casa e a mãe, curiosa, lá ia descobrir cadê a criança que estava ali. Deparava-se com ela perdida entre brinquedos, carrinhos ou bonecas, longe de tudo e de todos, e imensamente feliz. Nada eletrônico ou muito barulhento, capaz de transportá-la para um mundo de fantasias onde era possível encontrar Emília, Narizinho, Pedrinho e tantas outras diversões que não traziam riscos, como os jogos eletrônicos de agora, que trazem temas de arrepiar nossos cabelos. Por isso a criança podia se ausentar por algumas horas sem trazer medo. Com certeza estava bem acompanhada. Nos dias de hoje qualquer ausência momentânea angustia os pais, temerosos por não ter à vista a criança da casa.

Não estou lamentando o passar dos anos. Ele também é bem vindo. Apenas estou divagando sobre o que deixamos o tempo nos roubar. Por isso é preciso trazer à cena a criança que nos habita e presenteá-la, de alguma maneira, com instantes de alegria e paz – sem tanta pressão, sem tanta correria, sem tantas exigências. Rever amigos, buscar nossa turma, dividir risadas é tudo de bom nesse tempo meio louco que estamos vivendo.

Este prazer eu tive nesse feriado, em dose tripla. Primeiro, um almoço de fogão a lenha em plena cidade, na casa de um amigo querido que faz questão de cultivar momentos assim. Dá vontade de repetir sempre. Depois uma esticada para um vinho entre amigas, onde o velho tema “homens, mulheres e nossas diferenças” nos fez rir como crianças, descobrindo mais uma vez que conseguir com que o desejo de ambos coincida é mais difícil do que ter a infância de volta. Por isso é preciso muita criatividade para que a convivência dê certo. Mas desistir, jamais! Que seria da vida sem as diferenças? E, por último, uma conversa animada entre dois casais, sobre casamento, onde brincávamos de sugerir o que fazer pra dar conta da rotina, da cara emburrada, da impaciência com o outro, que às vezes nos invade. Um problema que as crianças nem imaginam que terão que enfrentar um dia, caso venham a dividir o mesmo teto com a pessoa amada. O clube da Luluzinha e do Bolinha adia o conflito pra mais tarde.

Tive uma infância deliciosa, de brincadeiras com primos do Rio, que transformavam meu fim de ano em dias mágicos, de leituras de Monteiro Lobato e revistas em quadrinho, de matinês no domingo à tarde de filmes da Disney, de passeios ao parque e voltas na roda gigante e tantos outros bons momentos, gravados no coração. Ando tentando, agora, não deixar o tempo me levar isso. Escrever aqui, neste Dia das Crianças, desejando aos adultos um pouco de fantasia e tempo pra sorrir faz parte do que venho acrescentando de bom à minha vida.

E, pra terminar, cenas de magia e amor aos nossos olhos, trazendo o Soldadinho de Chumbo, na versão genial da Disney.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Você já foi à Bahia?

Eu tinha 14 anos quando fui à Bahia pela primeira vez. Foi amor à primeira vista, assim que conheci de perto Salvador. Fiquei tão apaixonada pelo lugar que voltei querendo ter nascido lá. Claro que não fui a única. Se prestarmos atenção, veremos quantas músicas foram feitas em sua homenagem.

De lá pra cá voltei inúmeras vezes, e sempre tenho a mesma sensação: meu coração pertence àquelas terras que um dia Cabral avistou. Não tem jeito. Se eu demoro a estar por lá, ele reclama. E como é perigoso deixar o coração entristecido de saudade, não me resta outra saída a não ser obedecê-lo sempre. “A Bahia tem um jeito...” e esse jeito me encanta.

Como o coração da gente sempre descobre o que nos faz feliz, o meu acabou achando um filme da Disney delicioso que se tornou a diversão daqui de casa, quando meu filho começou a falar. De tanto ver o filme comigo, as primeiras músicas que aprendeu a cantar foram “Na baixa do sapateiro” e “Os quindins de Iaiá”, esta última interpretada no filme pela Aurora Miranda. Vocês podem até achar que estou exagerando, mas é a pura verdade.

Tem coisas que a gente não consegue descrever em palavras. Esse momento de cumplicidade com meu filho, por exemplo, enquanto assistíamos Pato Donald e Zé Carioca passear pela Bahia, é uma dessas. Tornou-se uma lembrança que quero sempre trazer comigo. Mas um pouco do filme posso deixar registrado aqui. Tenho certeza de que, ao assisti-lo, se você nunca foi à Bahia, irá!

Para Belíria, que me traz a Bahia sempre.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A bruxa da história

A mãe de um garotinho de 6 anos disse-me hoje que ele está terrível, implicando com todo mundo, pondo apelidos. “Acredita que ele chamou a coleguinha de bruxa e ela quase derreteu de tanto chorar? E ela, coitada, doida por ele”, enfatizou a mãe, discordando do que pensa ser uma rebeldia do filho. Pensei, cá com meus botões: “A colega vai ter que aprender desde cedo que segredos como esse não se pode revelar, assim, para os meninos, porque eles costumam esnobar mesmo!”

O choro da menina é até compreensível. Além de ter tido o coração atingido já tão nova, ninguém quer ser a bruxa da história. Afinal, desde criança vemos aquele ser horroroso aparecer nos Contos de Fada só realizando malvadezas. A beleza e os atos sublimes são destinados às fadas, que habitam o imaginário infantil, e por vezes os adultos bem que gostariam que elas existissem de verdade. Das bruxas queremos distância. Quando vemos as crianças chorarem por medo de alguma perdida por aí nas peças de teatro, rapidamente tentamos desmentir a fantasia: “Não tenha medo, bruxa não existe, é só faz de conta.”

Freud, no texto “O Estranho” (“Das Unheimlich”, 1919), apresenta os temas que lhe parecem mais suscetíveis de nos produzir a sensação de estranheza. Um deles teria origem na antiga visão animista do universo, quando se acreditava que o mundo seria povoado por espíritos humanos. Discutindo as idéias deste texto com meus alunos, alguns brincaram que seria melhor não questionarmos a existência de seres ligados ao sobrenatural. “E se eles estiverem por aí, às vezes até do nosso lado, e se irritarem com nossa descrença? O que poderiam aprontar?” Não é à toa que dizemos, mediante alguns acontecimentos, que “a bruxa está solta”, como deve estar, neste momento, no Senado Federal.

Mas pensando em seres sobrenaturais, lembrei-me de um caso que me divertiu muito e me rendeu boas risadas.

Recebi em minha casa uma grande amiga que vive no exterior, durante suas férias de 40 dias, aqui no Brasil. Após sua chegada, comecei a ver pedaços de biscoitos espalhados na cozinha, largados pela metade, resto de comida em pratinhos, pedaços de frutas, dentre outras variedades de alimentos. Achava estranho tudo aquilo, mas não tinha dúvidas do que fazer: jogava tudo fora. E minha amiga nunca se manifestava quanto aquele desperdício, nem se justificava pelo trabalho deixado para outras pessoas com a limpeza dos restos, nada. Silêncio absoluto sobre aquele hábito que mais parecia preguiça. E eu fui ficando cada vez mais intrigada, pois minha amiga nunca pareceu ser preguiçosa, muito menos folgada. “Mas vai saber? Debaixo do mesmo teto tudo muda de figura”, concluí resignada. E assim foi, até que um dia cheguei em casa cansada do trabalho e não aguentei ter que juntar tudo e levar para o lixo. Num ímpeto típico desses momentos em que não contamos duas vezes para falar, fui até ela e indaguei: “Bia, me diga uma coisa, por que você come biscoito pela metade e larga o resto pra trás e tem essa mania esquisita com tudo que come, ao invés de jogar no lixo as sobras?” Ela olhou-me muito séria e respondeu: “É que eu deixo para os duendes comerem.” Ai ai ai! Afastei-me, contendo o riso pela situação inusitada: eu jogando tudo fora e ela achando que os duendes estavam ficando bem alimentados. Por isso cada dia ela deixava mais coisa, animada com a visita deles à minha casa.

Não quero desfazer da crença de ninguém, mas nunca pude me esquecer deste episódio. Durante aqueles 40 dias ou os duendes foram comer na vizinha ou matei todos eles de fome! Mas, se eles existem e sobreviveram, espero que tenham me perdoado.
Neste caso, juro que não tive a menor intenção de ser a bruxa da história!

domingo, 13 de setembro de 2009

Homem tem que ser durão?

Dia desses, enquanto me encontrava presa ao nosso mar de carros que se tornou paisagem constante da cidade que habitamos, ouvi uma canção que adoro - Coqueiro Verde - que me distraiu por completo do caos ao meu redor.

Não sei se pelo desejo de me desligar do som incessante da orquestra das buzinas, cantarolei a música, desta vez, muito atenta à letra, que às vezes nos passa despercebida, numa injustiça sem fim àqueles que as compõem.

Acho a música deliciosa e a letra nos traz um dos temas que mais inquietam homens e mulheres do nosso planeta: o desencontro amoroso. O interessante é perceber como o homem, na música, tenta resolver o dilema – esperar eternamente ou ser durão, desistindo, por orgulho, da amada. Talvez este ponto seja um dos que diferencia os homens das mulheres. A espera, em nosso caso, alonga-se por tempo maior, já que o desejo feminino costuma ser mais persistente no campo do amor. Às vezes até passa do ponto de renúncia e o cor de rosa acaba por se transformar em tom acinzentado pela submissão que muitas mulheres aceitam, infelizmente, em nome do tal amor.

Mas voltando à música... O que mais me surpreendeu foi pensar que Leila Diniz poderia ter mesmo dito que “homem tem que ser durão”... Será? Uma mulher tão à frente de seu tempo, que, nas palavras da antropóloga Mirian Goldenberg, “[...] fazia e dizia o que muitos tinham o desejo de fazer e dizer. Não à toa, ela é apontada como uma precursora do feminismo no Brasil, uma feminista intuitiva que influenciou, decisivamente, as novas gerações. Leila Diniz, ao afirmar publicamente seus comportamentos e idéias a respeito da liberdade sexual, ao recusar os modelos tradicionais de casamento e de família e ao contestar a lógica da dominação masculina, passou a personificar as radicais transformações da condição feminina (e também masculina) que ocorreram no Brasil no final da década de 60.”

Se ela disse ou não, tentarei descobrir o contexto. Mas, em minha opinião, perdem os homens que se fazem de durão para não ter que pensar na mulher que querem, de que modo querem e se vale a pena esperar por ela, ainda que tenham que lhe dizer do mal estar que sentem em estar nesta posição. Mas também perdem as mulheres que se dispõem a esperar eternamente, sem nenhum movimento para ir ao encontro do que querem, descobrindo, por sua vez, o que realmente querem. Nem sempre o prazer está só na relação de amor, ainda que esta acrescente muito em nossas vidas. Este amor é realmente muito bom, mas não pode ser só o que traz sentido à vida. Podemos descobrir momentos deliciosos paralelamente ao encontro amoroso, como ser pega de surpresa, no meio da tarde, por uma canção esquecida.

Confesso a vocês que, naquele carro, naquele instante, senti-me feliz por cantarolar com Erasmo enquanto esperava o sinal verde me permitir seguir meu caminho rumo à vida, que nos traz, entre tantas coisas, o amor!

Coqueiro Verde
Composição: Roberto Carlos / Erasmo Carlos

Em frente ao coqueiro verde
Esperei uma eternidade
Já fumei um cigarro e meio
E Narinha não veio
Como diz Leila Diniz
O homem tem que ser durão
Se ela não chegar agora
Não precisa chegar
Pois eu vou me embora
Vou ler o meu Pasquim
Se ela chega e não me vê
Sai correndo atrás de mim

domingo, 6 de setembro de 2009

Ser ou não ser: eis a questão!

Para André e Lucas:

Nunca fui uma torcedora apaixonada. Minha escolha pelo time deu-se como a da maioria das crianças – os laços afetivos e familiares conduziram-me ao Atlético Mineiro. A lembrança de meu pai, carregando a almofada preta e branca, dobrável, para amenizar a dureza da arquibancada nas idas ao Mineirão, e do rádio AM de meu avô, sempre ao pé de seu ouvido durante as partidas, emoldura essa opção, difícil de ser desfeita, apesar dos apelos constantes do meu filho. Ontem mesmo ele me disse que sou “meia Borges”. Para ser Borges mesmo eu teria que torcer pelo Cruzeiro. Acho que seguirei com o coração pelas metades. Deixar de ser atleticana seria rasgar ao meio a cumplicidade com meu avô, esse sim, torcedor doente. E em sua memória e de Jário Anatólio Lima, de quem sempre fui fã, contarei aqui o maior vexame do qual participei, torcendo pelo Galo.

Mineirão lotado, fim de campeonato brasileiro. Não cabia mais ninguém no estádio. Em plena adolescência, eu e minha irmã acompanhando meu avô na torcida, como costumávamos fazer em alguns domingos. Não me lembro do adversário, mas não era o Cruzeiro. A torcida masculina espremendo-se para caber sentada onde já não havia mais lugar. Eu e minha irmã sentindo o clima pesar, pois meu avô danou a implicar com os torcedores pelo espreme espreme em torno das netas que causava, inevitavelmente, as encostadas de corpos, sem nenhuma maldade. Ele nos xingatórios e a gente tentando amenizar com o “deixa pra lá” e “assiste o jogo, Vô”…
Não deu outra. Lá pelas tantas um torcedor não aguentou e, no auge da irritação, soltou a bomba:
“Mas esse homem brigando por causa de umas netas feias, se ao menos fossem bonitas, vai lá!”
A ofensa foi pior que a goleada de 5×0 do Cruzeiro no Atlético, no último domingo! Acho que depois disso voltei pouco ao campo. Não era pra menos. Ainda bem que eu e minha irmã nos recuperamos logo da lesão, em sessões de “fisioterapia afetiva”, promovidas pelo carinho de um avô amoroso. Nossa auto-estima preferiu acreditar num possível engano daquele torcedor e apostou nos amores do futuro.
Hoje, quando o Atlético joga com o Cruzeiro, sinto os meus dedos entrelaçados aos de meu avô e torço junto com ele. Essa é a maneira que encontrei de tê-lo sempre por perto. Mas acho que se ele hoje estivesse vivo, seu coração não aguentaria a amargura que temos vivido com o time…

Por isso, queridos sobrinhos, sigo sonhando com algumas partidas em que eu possa relembrar a alegria do Theodomiro, que sempre acreditou num time forte e vingador.
Que ele continue, onde estiver, nesta ilusão!

Obs: Texto escrito em 28/04/09, após uma derrota do Galo para o Cruzeiro, postado no Blog do Augusto nos comentários sobre o “Bar do Carro” /27/04/09/

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Chama os meninos!

Não adianta a gente pensar que as cenas familiares não vão se repetir quando trocarmos os laços cotidianos porque elas irão, sim, se apresentar, em nova versão do passado.

A que me refiro? Aos nossos encontros com a modernidade, que chega com tanta naturalidade para os filhos, como um chip instalado no DNA que faltou aos pais.

Lembro-me de insistir com os meus para usarem o vídeo, recém-chegado em nossa casa (“Ai, que antiguidade!”, alguns pensarão), para uma diversão noturna no final de semana. Acontece que eles se atrapalhavam com os botões e só queriam ligar a máquina se um dos filhos estivesse em casa, para facilitar a operação. E isso não tinha nada a ver com inteligência, garanto-lhes! Duas pessoas plenas de intelectualidade. Mas do alto da minha adolescência, eu considerava um assombro aquela resistência em aprender algo que me parecia tão banal.

Claro que isso jamais aconteceria comigo...

“Claro????!!!”

Instalamos um sistema de áudio e vídeo ligado a um computador de última geração na nossa sala, de onde partem filmes e partidas de futebol que animam nossos dias de “lar, doce lar”.

Mas aí é que o “claro” vai por água a baixo.

O computador trava, o áudio some, uma parafernália que sempre emperra naquele momento imperdível, tipo, cobrança de pênalti nos últimos minutos do jogo... Nada a ver com a qualidade do equipamento. Apenas a modernidade dando expressão de autonomia. Não nos resta alternativa, depois das inúmeras tentativas de descobrir o mistério, a não ser se render: “Chama os meninos!”

Aqui em casa, os meninos são três. Os dois mais velhos sabem, até de olho fechado, o fio que conecta A com B, a filmadora, o PC, o que faz o celular dar bom dia, dentre outras invenções. Devem pensar o mesmo que eu, quando meus pais me chamavam. Mas não fica só nisso. Aprender a fazer este blog funcionar com mais diversão, por exemplo, só vai acontecer depois que os meninos me derem uma aulinha básica.
Podem ter certeza que vocês serão os primeiros a perceber a mudança. Por enquanto, só sei mesmo brincar com as letras, porque essas não mudam com o tempo.

O filho mais novo nem imagina que um dia não tínhamos nada disso. Custou a entender quando lhe expliquei que eu não tinha computador quando criança. Depois de prestar muita atenção na história que lhe contei sobre cartas e correios, olhou-me seriamente e mandou ver na pergunta que me calou definitivamente:

“Mãe, mas me explica só mais uma coisa que eu não entendi. Se não tinha computador antes, como você fazia pra ler seus e-mails?”

Pois é... Querem saber mais de tecnologia? Chamem os meninos!

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Camisinha? Nem pensar!

Que muita gente acha difícil falar de sexo com as crianças, até aí nenhuma novidade! Mas como fazer diante de tanta informação que elas escutam, por todos os lados que passam? Fingir que não é com a gente? Não me convenço dessa opção.

Terminei recentemente um mestrado sobre mães e crianças vivendo com HIV/Aids e o mais impressionante como resultado do estudo foi o silêncio em torno da doença, mesmo quando a criança conhece seu diagnóstico. As mães desconversam, fingem que não entendem a curiosidade do filho e a criança fica impedida de perguntar, de compreender porque não pode contar pra ninguém que toma remédio e sem poder falar sobre várias outras questões importantes que deveriam ser tratadas na família.

Como irão fazer na adolescência, quando o amor vier embalado em camisinha?

Chegamos então a ela...acham que não é mais tabu? Então escutem essa historinha, passada aqui perto mesmo, mais exatamente nos cantos em que o filho desta blogueira costuma estar.

Em época de gripe suína, a escola pediu que os alunos levassem garrafinhas individuais para a água. E lá vai uma, mais uma, mais outra...e nada delas voltarem. Uma das que restou aqui em casa trazia na embalagem os dizeres de um Congresso sobre Aids/Prevenção, que participei em 2006. "Vista-se. Use sempre camisinha".

"Mãe, eu não vou levar isso pra escola não!
Escrito c a m i s i n h a???"...

...manifestou-se, na hora, a voz de 8 anos, já entendido de um assunto que sempre surge em propagandas. Pra que serve a camisinha, ele já sabe.

"Quê isso, meu filho. Pode levar. Depois, não tem outra aqui não, você deixou todas na escola."

Sabem o que aconteceu? Hoje, na hora de pegar a garrafa devidamente lavada, ele disse: "Olha, todo mundo riu, o menino do meu lado fez piada e a professora me olhou com cara de brava. Achei melhor guardar a garrafinha."

Achei a história mal contada e lhe dei uma espremida na parede. Na verdade ele ficou mostrando a garrafinha para os colegas porque, segundo sua explicação lógica, "camisinha é engraçado por causa do formato dela".

Entenderam?

Não é à toa que a garrafinha não ficou esquecida na escola.

Outra cena, vivida por uma amiga. Ela e o marido faziam compras de supermercado com seus dois filhos, de 10 e 11 anos. Os quatro ali, entre corredores, prateleiras e carrinho. Os meninos ajudando. De repente, nenhum dos dois quer mais chegar perto do carrinho. Ela sem entender o motivo. Até que descobriu a razão daquele afastamento repentino. Como chegar perto, com algumas camisinhas "a céu aberto" no meio das compras? A vergonha era evidente.

Então, me respondam:

A tal camisinha é pra ficar mesmo só no bolso?

Dá pra gente fazer este assunto circular entre as crianças?

Ou...nem pensar?

domingo, 23 de agosto de 2009

As vizinhas

Ontem passei a tarde em Portugal. Fui convidada por uma vizinha e seu marido para um almoço no Verde Gaio, tradicional restaurante português de Belo Horizonte, do qual são donos. Verdadeiro sábado de conversas ao vento, bolinhos de bacalhau e chopp gelado.

Vizinhos, segundo um grande amigo que tenho, são para ser mantidos bem longe. Que não ocorram sequer encontros no elevador. Discordo inteiramente dele, ainda que saibamos existir alguns que mereceriam tal tratamento.

Aos seis anos de idade mudei-me para um prédio recém construído, ainda não inteiramente habitado, e assim vi chegar outras famílias que se tornaram próximas à minha. As crianças brincavam livres na garagem e permutávamos entradas e saídas nos apartamentos uns dos outros. Verdadeira alegria em tempos que garagem não era sinônimo de perigo à infância.

Morei por 23 anos nesse endereço e sempre achei interessante a convivência de minha mãe com suas amigas do prédio. Procurei levar esta possibilidade para outros “habitats”, mas hoje em dia a estranheza entre as pessoas é tanta que, para minha decepção, isso não aconteceu.

Até que cheguei ao meu atual endereço e encontrei, de início, uma amiga antiga da família de meu marido, o que facilitou nossa aproximação. Acabamos por tecer laços de amizade que nos tornam, hoje em dia, praticamente irmãs. Trocamos mimos e gentilezas na maior espontaneidade que parecemos amigas de infância, daquelas que compartilham risos e choros, machucados no joelho, os relatos do primeiro beijo e o medo do desconhecido.

A vizinha de baixo, que passou a ter como companhia os passos incessantes e barulhentos de meu filho após nossa chegada, brinda-me com trilhas musicais aos domingos escolhidas a dedo, que me fazem ter vontade de colocar um pen drive na janela e copiar tudo, tamanho o bom gosto. Nunca reclamou da barulhada infantil. Tem um grande senso de humor para lidar com isso e nossa relação é a das mais cordiais, daí nosso encontro para o almoço.

Quando eu já me dava por satisfeita, descubro um dia que minha locutora preferida, daquelas que a gente escuta sempre no dial do carro apresentar com a maior elegância o programa preferido de fim de tarde enquanto o trânsito nos prende no trajeto para a escola do filho, muda-se para perto de mim. Senti, no início, aquele momento meio esquisito de fã. Como me apresentar para uma vizinha que já me era tão familiar? Dei tempo ao tempo e a aproximação deu-se naturalmente. Tive o privilégio de ser eleita a primeira a receber seus filhotes para uma noite de sono, para que ela pudesse dar uma escapada rápida com o marido para um show. Hoje trocamos muitas figurinhas e nosso álbum só cresce com as trocas.

Agora só me falta convencer meu amigo a se mudar para o prédio. Sua companhia seria muito bem-vinda. Mas ele arrepia cada vez que lhe descrevo um de meus encontros diários de fim de tarde, de fim de noite, de fim de semana, enfim, de fim do tédio que acompanha os solitários em prédios esvaziados de sentido. Acho que jamais conseguirei lhe provar que ele está enganado.

Eu continuarei por aqui, desejando sempre que meus encontros com minhas vizinhas se prolonguem por dias futuros. Cada uma, a seu modo, acrescenta muito à minha vida.
D I A R I A M E N T E.

(Para Geruza, Lucinha e Waleska).

sábado, 22 de agosto de 2009

Como nasceu o blog

Nem me lembro da primeira letra que ouvi...mas de uma coisa me lembro bem: depois que encontrei as letras pelo meu caminho, nunca mais parei de brincar com elas. Brinquei tanto que acabei tendo que arrumar um baú para guardá-las, senão poderia perdê-las espalhadas pelo mundo, e isso não ia ter a menor graça.

Acho que guardaram o baú pra que eu parasse de brincar e começasse a estudar, depois que cresci um pouco. Cresci, estudei, formei, namorei, casei, e todos os "ei" que a gente faz pela estrada a fora...ah...mãezei também...e trabalhei, porque no nosso mundo ninguém pode ficar só pensando, o que às vezes é uma pena.

Mas aí aconteceu uma coisa muito engraçada. Um dia entrei no quarto do meu filho, olhei pra o baú de brinquedos dele e me lembrei que eu tive um. Depois disso não pude fazer mais nada até encontrá-lo. E não é que o encontrei? Bem escondido, porque eles não queriam mesmo que eu me perdesse no meio de tanta letra.

Sabem o que eu fiz quando o encontrei? Levei-o pra casa e, trancada no meu quarto, abri a tampa bem devagarzinho. De repente saiu a primeira letra. A "prima", como dizem em italiano. E de posse da primeira letra procurei a segunda, a terceira, e foi saindo tanta letra que não ia mesmo caber tudo no meu quarto. Então resolvi criar um canto pra elas ficarem soltas por aí, já que não dava pra trancá-las de novo no baú.

Agora que acabei de criá-lo, vou poder brincar com elas de novo. O que vai acontecer ainda não sei. Acho que vou descobrir com o tempo.

Mas de uma coisa eu sei. O nome do canto ficou "Prima letra"... foi um jeito que arrumei de batizar a primeira letra que teve coragem de sair do baú e me olhar pedindo pra vir ao mundo. Tomara que a gente, eu e as minhas letras guardadas da infância, possamos nos divertir muito por aqui!