Não adianta a gente pensar que as cenas familiares não vão se repetir quando trocarmos os laços cotidianos porque elas irão, sim, se apresentar, em nova versão do passado.
A que me refiro? Aos nossos encontros com a modernidade, que chega com tanta naturalidade para os filhos, como um chip instalado no DNA que faltou aos pais.
Lembro-me de insistir com os meus para usarem o vídeo, recém-chegado em nossa casa (“Ai, que antiguidade!”, alguns pensarão), para uma diversão noturna no final de semana. Acontece que eles se atrapalhavam com os botões e só queriam ligar a máquina se um dos filhos estivesse em casa, para facilitar a operação. E isso não tinha nada a ver com inteligência, garanto-lhes! Duas pessoas plenas de intelectualidade. Mas do alto da minha adolescência, eu considerava um assombro aquela resistência em aprender algo que me parecia tão banal.
Claro que isso jamais aconteceria comigo...
“Claro????!!!”
Instalamos um sistema de áudio e vídeo ligado a um computador de última geração na nossa sala, de onde partem filmes e partidas de futebol que animam nossos dias de “lar, doce lar”.
Mas aí é que o “claro” vai por água a baixo.
O computador trava, o áudio some, uma parafernália que sempre emperra naquele momento imperdível, tipo, cobrança de pênalti nos últimos minutos do jogo... Nada a ver com a qualidade do equipamento. Apenas a modernidade dando expressão de autonomia. Não nos resta alternativa, depois das inúmeras tentativas de descobrir o mistério, a não ser se render: “Chama os meninos!”
Aqui em casa, os meninos são três. Os dois mais velhos sabem, até de olho fechado, o fio que conecta A com B, a filmadora, o PC, o que faz o celular dar bom dia, dentre outras invenções. Devem pensar o mesmo que eu, quando meus pais me chamavam. Mas não fica só nisso. Aprender a fazer este blog funcionar com mais diversão, por exemplo, só vai acontecer depois que os meninos me derem uma aulinha básica.
Podem ter certeza que vocês serão os primeiros a perceber a mudança. Por enquanto, só sei mesmo brincar com as letras, porque essas não mudam com o tempo.
O filho mais novo nem imagina que um dia não tínhamos nada disso. Custou a entender quando lhe expliquei que eu não tinha computador quando criança. Depois de prestar muita atenção na história que lhe contei sobre cartas e correios, olhou-me seriamente e mandou ver na pergunta que me calou definitivamente:
“Mãe, mas me explica só mais uma coisa que eu não entendi. Se não tinha computador antes, como você fazia pra ler seus e-mails?”
Pois é... Querem saber mais de tecnologia? Chamem os meninos!
Aqui em casa nem adianta chamar os meninos que a gente não entende nada!
ResponderExcluirDeixa disso, André...e o upgrade semanal no Blog do "Augusto no buteco", fica por conta de quem?
ResponderExcluirAcho que vou começar a te chamar pra vir aqui também, rsrsrs...beijos.
Juliana, estou gostando de ver. Sim, os assuntos estão aí, é só pegá-los. E concordo com você, acabou esta história de "tira os meninos da sala", agora é "chama os meninos", seja para ajudar na tecnologia ou para escutar sobre camisinhas. Estou achando que este blog pode virar alguma coisa além da diversão de se escrever, pode virar uma coisa séria de mídia escrita; você poderia fazer com a psicanálise o que Dráuzio Varela faz com medicina. O que acha? Augusto
ResponderExcluirJuliana,
ResponderExcluirMais uma vez o seu texto me agradou muito. Pela construção, pelo argumento, pela sensibilidade. Parabéns! Vou virar leitora assídua!
À medida que fui lendo, uma trilha sonora tocou em minha cabeça. Achei bacana: a letra da canção fala do menino que a gente chama quando que ver a situação e/ou atuar nela de forma mais simples, mais lúdica, mais infantil, com pergunta seimples.
Vai aí:
Bola de Meia, Bola de Gude
Milton Nascimento
Composição: Milton Nascimento
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão
Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão
E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade alegria e amor
Pois não posso
Não devo
Não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal
Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão
Marina,
ResponderExcluirperfeita a lembrança. Adoro esta canção. Quando eu conseguir trazer os meninos pra tal da aula básica, vou ver se consigo deixar um vídeo com a música on line, rsrsrs...por enquanto, estou engatinhando mesmo.
Grande beijo! Volte sempre por aqui.