segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Só entra com marido

Na semana passada, ouvi algumas mulheres conversando no clube que frequento, enquanto esperava meu filho terminar a aula de esportes.

Não pensem que eu fiquei ouvindo a conversa alheia. Na verdade eu estava sentada na mesa ao lado, lendo um livro, mas elas colocaram na roda um assunto que aos meus ouvidos de psicanalista não teria como passar despercebido. E depois que inventei essa mania de brincar com as letras do meu baú, se eu não prestar atenção em coisas que despertam meus sentidos, acabo não escrevendo nada. Inspiração não cai do céu, não. Dá trabalho, como me disse um dia Mônica Sartori, relembrando uma tarde inteira de trabalho deitada na grama, olhando as nuvens, pra pintar, se não me engano, a série maravilhosa “Ponta de Asa de Anjo”. Tenho a sorte de ter uma dessa ponta de asa emoldurada no meu quarto, encantando diariamente meu olhar. Mas quando a Mônica entrou em casa e disse pra empregada que estava cansada demais de tanto trabalhar, sentiu que foi considerada meio maluca. Pela cara que encontrou como resposta, imaginou seu pensamento – “Como assim? Cansada de ficar deitada na grama, olhando o céu?” – Rimos muito dessa história.

Então, eu ali estava, trabalhando, e as mulheres, todas da “melhor idade”, como se diz hoje, indignadas com a atitude de uma pessoa que estaria coordenando alguns cursos no clube. Não sei detalhes. Mas o motivo da indignação seria o fato de que uma delas tentou se matricular na aula de dança e qual não foi sua surpresa ao saber que ela só poderia ir “se fosse acompanhada pelo marido”!!!!! Isso mesmo. “Sozinha não pode, só com o marido.” E olha que ela argumentou que no ano passado foi sozinha, não teve problema, mas a tal coordenadora foi taxativa. “As regras mudaram. Agora, só com marido”.

Tive que sentir simpatia pela reação delas. Em peno século 21, alguém ter que levar marido pra fazer aula de dança? E elas se perguntavam: “qual o problema?”, “e se eu quiser ir sozinha?” “porque tenho que fazer o que gosto só se ele for?” “Ele não gosta de dançar, vai fazer o que lá?”

Uma delas até contou que o marido disse que iria ao primeiro dia, só pra ela poder entrar, mas depois não voltava. Mas ela não quis, não ia se render a uma exigência tão descabida.

Enfim, a discussão rolava solta, e elas acabaram concluindo que a tal coordenadora não tem sensibilidade, não sabe ser feliz, nem vai durar muito no cargo, porque "não entende nada da nossa alma" e, com a seguinte frase, uma delas encerrou de vez a conversa: "A verdade é que a alegria incomoda as pessoas!"

Fiquei fã delas. Nota zero pra tal coordenadora. Que bobagem é essa de “mulher só entra com marido”?

Ando torcendo pra elas fazerem uma passeata dia desses lá no clube, reivindicando o direito de dançar a qualquer hora, de qualquer jeito, inclusive sem par. Sou capaz até de ajudar nos cartazes.

Amor é pra acrescentar!

sábado, 24 de outubro de 2009

O sorriso de Elis

Acordei hoje muito cedo para um sábado, mas tive compromissos com o filho mais novo que me exigiram isso.

Às oito e quinze eu já estava rodando e achando muito estranho o trânsito que encontrei pela frente. Não tem jeito, já não existem mais manhãs de sábado tranquilas na cidade. Fazer o que? Fugir pro interior? Não sair de casa no fim de semana? Quais as possibilidades? Exatamente às 8:33, um motorista irritado ficou buzinando atrás de mim, um segundo depois que o sinal abriu, para que eu liberasse o caminho. "Nossa, eu nem acordei direito e o outro, estressadíssimo, a essa hora da manhã! Imagine ao meio-dia. Vai acabar infartando." Pensei, tentando preservar o resto de tranquilidade que me restava, pelo menos no interior do meu carro.

Senti saudade de ouvir uma música da Elis. Acabei encontrando uma filmagem antiga, de um show no Canecão. A imagem não está muito boa, mas resolvi postá-la pra dizer um pouco dos meus desejos: acordar feliz, cantando, em tempos que era possível fazer tudo com um pouco mais de lentidão. Rever aquele sorriso dela desfaz qualquer aborrecimento que tenha atravessado nosso caminho. E enche meu coração de alegria. "Que dure pelo menos..."

Bom fim de semana pra vocês!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Você tem fome de que?

No programa do dia 20/10, Rusty Marcellini conversou com Fabiana Arreguy sobre os premiados da Vejinha Minas 2009/2010. Enviei-lhes algumas sugestões pra melhorar essa eleição, atendendo a solicitação que fizeram aos ouvintes do programa. E vocês? O que pensam sobre o assunto?
O link direciona para o programa, é só clicar e ouvir.

CBN - A rádio que toca notícia - CBN Sabores BH

E eu continuo me divertindo pelo caminho dos bares, botecos e restaurantes.
Querem saber de quem é a responsabilidade? Passem pelo blog "Augusto no buteco", que vocês irão descobrir.

Por falar em restaurante, ando nas nuvens com a reabertura do Mikado, o primeiro restaurante japonês que comecei a frequentar anos atrás, na companhia da minha amiga Rita Cândido, quando nem pensávamos em dividir uma carreira musical. Digo-lhes que ele está melhor ainda. A comida, deliciosa, ótimo atendimento e ambiente super agradável. Acho que logo vai tirar a posição do Sushi Naka de melhor japonês da cidade. Pra quem quiser conferir: Av. do Contorno, 2.419, Floresta, (31) 3222-4948. Aberto de segunda a sábado, das 19h à 1h.

Como já disseram os Titãs:

"a gente não quer só comida
a gente quer comida, diversão e arte.
a gente não quer só comida,
a gente quer saída para qualquer parte.
a gente não quer só comida,
a gente quer bebida, diversão, balé.
a gente não quer só comida,
a gente quer a vida como a vida quer"

E eu? Assino em baixo!

Quanto à carreira musical, fica aqui um convite a Rita para colocarmos em cena nossa parceria. Um retorno bem vindo, que eu adoraria, como o do Mikado.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Tiraram o doce da minha boca!

O texto de hoje é, na verdade, um grande protesto à saída da Viviane Zandonadi da CBN, com seu programa diário “Turismo e Gastronomia”.

Sabe quando você elege um doce preferido, come sempre e nunca enjoa, de tão bom, conta as horas pra que chegue o momento da sobremesa e sente enorme prazer com o sabor da descoberta, que passa a fazer parte da sua vida?

Pois é... Que me perdoem os leitores que acharem minhas palavras um tanto açucaradas, mas hoje acordei com gosto amargo na boca porque dela me tiraram o doce e eu não fiquei nem um pouco feliz com isso. Por isso resolvi protestar, “letrando” minha decepção.

Levo meu filho à escola logo depois do almoço e o trânsito nesse horário costuma ser bem indigesto, tornando um martírio, às vezes, uma obrigação diária que poderia ter outro sentido entre pais e filhos. Acabei descobrindo o programa da Vivi nesse trajeto – e arrisco a chamá-la assim tamanha proximidade que ela provocava nos ouvintes com seu jeito espontâneo de dizer as coisas – o que mudou completamente o início das minhas tardes. Não é só porque ela falava sobre turismo e gastronomia, temas sempre interessantes, mas pelo jeito que ela falava. Pra começar, o programa trazia em seu início uma música escolhida por ela a dedo. Cada preciosidade que vocês não imaginam existir. Para os que me conhecem e sabem o que significa música em minha vida, já deu pra perceber que fui capturada de cara pelo seu bom gosto. Depois, as dicas sobre lugares pra ir a dois, com amigos, com crianças, com o coração, com o desejo e tudo mais que podemos levar pra passarmos horas de puro deleite, longe da confusão que a cidade nos apresenta. Às vezes o lugar estava lá mesmo, na cidade confusa, mas de tão bom conseguia nos transportar para fora dela, e saber de sua existência pela Viviane era como descobrir segredos que a cidade esconde. Os pratos, as comidas, os pecados... (Lembra, Vivi, do programa sobre as coxinhas? Fez tanto sucesso que o Sardenberg perdeu a conta de quantos e-mails teve que ler no ar). Enfim, só mesmo os ouvintes assíduos como eu sabem o que significa o término do programa. Lamentável, escreveu um deles, absurdo, outro... Inacreditável, escrevo eu, que agora tenho que encontrar um início de tarde sem graça e sem gosto e reinventar meu caminho entre o mar de carros, com a decepção de ter tido o doce preferido tirado da minha boca, sem saber de quem foi a responsabilidade por uma decisão tão equivocada. Sei que tal decisão não partiu dela e que ela também está lamentando o fim do programa, dizendo no blog do TG que: “Não dá para explicar o inexplicável, mas tem uma carta de despedida...”

Não, Vivi, não quero me despedir. Mais uma vez protesto. Ainda bem que você criou um blog pra que a gente não fique tão só nas tardes da cidade... E lá você está inteira, com sua maneira delicada e elegante de expor idéias, escolhas, músicas, filmes e tudo mais que te interessa compartilhar com seus ouvintes.

Tenho uma amiga que disse achar minha idéia de virar blogueira um ato de coragem e tanto, já que a gente acaba expondo o coração a céu aberto pra quem quiser nos ler. Deve ser mesmo. Mas acho que vale a pena. Se vocês entrarem no blog da Viviane, listado em minhas preferências, irão encontrar ali alguém que tem coragem de pintar na tela de um computador as cores que escolhe pra dar mais vida à vida. Ali, ela escreveu: “... não entendo a vida sem música...” Vivi, eu também não. E também não entendo a CBN sem você. Boa sorte e continue seu trabalho, que me abriu outras janelas pra que eu alimente minha coragem de estar aqui.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Cadê a criança que estava aqui?

“O tempo comeu!”...
Será esta a melhor resposta? Acho que sim, literalmente. O tempo que se vai com os anos e o tempo de brincar, que se transforma em tempo de tantos compromissos que a gente, muitas vezes, perde a noção de como é bom se esquecer do mundo por algumas horas, envolvendo-se com o que nos traz prazer.

Não era assim no tempo da infância? De repente um silêncio pela casa e a mãe, curiosa, lá ia descobrir cadê a criança que estava ali. Deparava-se com ela perdida entre brinquedos, carrinhos ou bonecas, longe de tudo e de todos, e imensamente feliz. Nada eletrônico ou muito barulhento, capaz de transportá-la para um mundo de fantasias onde era possível encontrar Emília, Narizinho, Pedrinho e tantas outras diversões que não traziam riscos, como os jogos eletrônicos de agora, que trazem temas de arrepiar nossos cabelos. Por isso a criança podia se ausentar por algumas horas sem trazer medo. Com certeza estava bem acompanhada. Nos dias de hoje qualquer ausência momentânea angustia os pais, temerosos por não ter à vista a criança da casa.

Não estou lamentando o passar dos anos. Ele também é bem vindo. Apenas estou divagando sobre o que deixamos o tempo nos roubar. Por isso é preciso trazer à cena a criança que nos habita e presenteá-la, de alguma maneira, com instantes de alegria e paz – sem tanta pressão, sem tanta correria, sem tantas exigências. Rever amigos, buscar nossa turma, dividir risadas é tudo de bom nesse tempo meio louco que estamos vivendo.

Este prazer eu tive nesse feriado, em dose tripla. Primeiro, um almoço de fogão a lenha em plena cidade, na casa de um amigo querido que faz questão de cultivar momentos assim. Dá vontade de repetir sempre. Depois uma esticada para um vinho entre amigas, onde o velho tema “homens, mulheres e nossas diferenças” nos fez rir como crianças, descobrindo mais uma vez que conseguir com que o desejo de ambos coincida é mais difícil do que ter a infância de volta. Por isso é preciso muita criatividade para que a convivência dê certo. Mas desistir, jamais! Que seria da vida sem as diferenças? E, por último, uma conversa animada entre dois casais, sobre casamento, onde brincávamos de sugerir o que fazer pra dar conta da rotina, da cara emburrada, da impaciência com o outro, que às vezes nos invade. Um problema que as crianças nem imaginam que terão que enfrentar um dia, caso venham a dividir o mesmo teto com a pessoa amada. O clube da Luluzinha e do Bolinha adia o conflito pra mais tarde.

Tive uma infância deliciosa, de brincadeiras com primos do Rio, que transformavam meu fim de ano em dias mágicos, de leituras de Monteiro Lobato e revistas em quadrinho, de matinês no domingo à tarde de filmes da Disney, de passeios ao parque e voltas na roda gigante e tantos outros bons momentos, gravados no coração. Ando tentando, agora, não deixar o tempo me levar isso. Escrever aqui, neste Dia das Crianças, desejando aos adultos um pouco de fantasia e tempo pra sorrir faz parte do que venho acrescentando de bom à minha vida.

E, pra terminar, cenas de magia e amor aos nossos olhos, trazendo o Soldadinho de Chumbo, na versão genial da Disney.