domingo, 6 de setembro de 2009

Ser ou não ser: eis a questão!

Para André e Lucas:

Nunca fui uma torcedora apaixonada. Minha escolha pelo time deu-se como a da maioria das crianças – os laços afetivos e familiares conduziram-me ao Atlético Mineiro. A lembrança de meu pai, carregando a almofada preta e branca, dobrável, para amenizar a dureza da arquibancada nas idas ao Mineirão, e do rádio AM de meu avô, sempre ao pé de seu ouvido durante as partidas, emoldura essa opção, difícil de ser desfeita, apesar dos apelos constantes do meu filho. Ontem mesmo ele me disse que sou “meia Borges”. Para ser Borges mesmo eu teria que torcer pelo Cruzeiro. Acho que seguirei com o coração pelas metades. Deixar de ser atleticana seria rasgar ao meio a cumplicidade com meu avô, esse sim, torcedor doente. E em sua memória e de Jário Anatólio Lima, de quem sempre fui fã, contarei aqui o maior vexame do qual participei, torcendo pelo Galo.

Mineirão lotado, fim de campeonato brasileiro. Não cabia mais ninguém no estádio. Em plena adolescência, eu e minha irmã acompanhando meu avô na torcida, como costumávamos fazer em alguns domingos. Não me lembro do adversário, mas não era o Cruzeiro. A torcida masculina espremendo-se para caber sentada onde já não havia mais lugar. Eu e minha irmã sentindo o clima pesar, pois meu avô danou a implicar com os torcedores pelo espreme espreme em torno das netas que causava, inevitavelmente, as encostadas de corpos, sem nenhuma maldade. Ele nos xingatórios e a gente tentando amenizar com o “deixa pra lá” e “assiste o jogo, Vô”…
Não deu outra. Lá pelas tantas um torcedor não aguentou e, no auge da irritação, soltou a bomba:
“Mas esse homem brigando por causa de umas netas feias, se ao menos fossem bonitas, vai lá!”
A ofensa foi pior que a goleada de 5×0 do Cruzeiro no Atlético, no último domingo! Acho que depois disso voltei pouco ao campo. Não era pra menos. Ainda bem que eu e minha irmã nos recuperamos logo da lesão, em sessões de “fisioterapia afetiva”, promovidas pelo carinho de um avô amoroso. Nossa auto-estima preferiu acreditar num possível engano daquele torcedor e apostou nos amores do futuro.
Hoje, quando o Atlético joga com o Cruzeiro, sinto os meus dedos entrelaçados aos de meu avô e torço junto com ele. Essa é a maneira que encontrei de tê-lo sempre por perto. Mas acho que se ele hoje estivesse vivo, seu coração não aguentaria a amargura que temos vivido com o time…

Por isso, queridos sobrinhos, sigo sonhando com algumas partidas em que eu possa relembrar a alegria do Theodomiro, que sempre acreditou num time forte e vingador.
Que ele continue, onde estiver, nesta ilusão!

Obs: Texto escrito em 28/04/09, após uma derrota do Galo para o Cruzeiro, postado no Blog do Augusto nos comentários sobre o “Bar do Carro” /27/04/09/

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