Ontem passei a tarde em Portugal. Fui convidada por uma vizinha e seu marido para um almoço no Verde Gaio, tradicional restaurante português de Belo Horizonte, do qual são donos. Verdadeiro sábado de conversas ao vento, bolinhos de bacalhau e chopp gelado.
Vizinhos, segundo um grande amigo que tenho, são para ser mantidos bem longe. Que não ocorram sequer encontros no elevador. Discordo inteiramente dele, ainda que saibamos existir alguns que mereceriam tal tratamento.
Aos seis anos de idade mudei-me para um prédio recém construído, ainda não inteiramente habitado, e assim vi chegar outras famílias que se tornaram próximas à minha. As crianças brincavam livres na garagem e permutávamos entradas e saídas nos apartamentos uns dos outros. Verdadeira alegria em tempos que garagem não era sinônimo de perigo à infância.
Morei por 23 anos nesse endereço e sempre achei interessante a convivência de minha mãe com suas amigas do prédio. Procurei levar esta possibilidade para outros “habitats”, mas hoje em dia a estranheza entre as pessoas é tanta que, para minha decepção, isso não aconteceu.
Até que cheguei ao meu atual endereço e encontrei, de início, uma amiga antiga da família de meu marido, o que facilitou nossa aproximação. Acabamos por tecer laços de amizade que nos tornam, hoje em dia, praticamente irmãs. Trocamos mimos e gentilezas na maior espontaneidade que parecemos amigas de infância, daquelas que compartilham risos e choros, machucados no joelho, os relatos do primeiro beijo e o medo do desconhecido.
A vizinha de baixo, que passou a ter como companhia os passos incessantes e barulhentos de meu filho após nossa chegada, brinda-me com trilhas musicais aos domingos escolhidas a dedo, que me fazem ter vontade de colocar um pen drive na janela e copiar tudo, tamanho o bom gosto. Nunca reclamou da barulhada infantil. Tem um grande senso de humor para lidar com isso e nossa relação é a das mais cordiais, daí nosso encontro para o almoço.
Quando eu já me dava por satisfeita, descubro um dia que minha locutora preferida, daquelas que a gente escuta sempre no dial do carro apresentar com a maior elegância o programa preferido de fim de tarde enquanto o trânsito nos prende no trajeto para a escola do filho, muda-se para perto de mim. Senti, no início, aquele momento meio esquisito de fã. Como me apresentar para uma vizinha que já me era tão familiar? Dei tempo ao tempo e a aproximação deu-se naturalmente. Tive o privilégio de ser eleita a primeira a receber seus filhotes para uma noite de sono, para que ela pudesse dar uma escapada rápida com o marido para um show. Hoje trocamos muitas figurinhas e nosso álbum só cresce com as trocas.
Agora só me falta convencer meu amigo a se mudar para o prédio. Sua companhia seria muito bem-vinda. Mas ele arrepia cada vez que lhe descrevo um de meus encontros diários de fim de tarde, de fim de noite, de fim de semana, enfim, de fim do tédio que acompanha os solitários em prédios esvaziados de sentido. Acho que jamais conseguirei lhe provar que ele está enganado.
Eu continuarei por aqui, desejando sempre que meus encontros com minhas vizinhas se prolonguem por dias futuros. Cada uma, a seu modo, acrescenta muito à minha vida.
D I A R I A M E N T E.
(Para Geruza, Lucinha e Waleska).
Ei, amiga, integrar a dedicatória de estreia desta corajosa (e bela) iniciativa é alegria dupla: parabéns pelo seu desejo realizado e obrigada pelas palavras e jornadas "de fé, irmãs, camaradas"!
ResponderExcluirQuero ainda aproveitar a oportunidade pra registrar um protesto contra o condomínio: aquelas sessões no Cine201 estão fazendo mta falta. Converse com o(s) responsável(eis) e resolva essa situação.
Tim-tim. E sucesso sempre.
Geruza.
Amiga, vamos retomar nosso cinema. Se no meio do filme o projetor der pra trás, a gente "chama os meninos", rsrsrs(leia no blog!).
ResponderExcluirOs filmes daqui de casa ficam melhores quando assistidos na companhia de vocês.
Beijo.
Ai Ju, fiquei com 'inveja branca'! Esse negócio de bons vizinhos (bons amigos), de fato é muito bom.
ResponderExcluirFalar nisso, precisamos combinar aquela saída!
bj.
Dôra