domingo, 20 de novembro de 2011

Pra sempre


...porque nesse planeta terra ainda bem que ainda existe quem ainda acredite que amar vale a pena...


sábado, 22 de outubro de 2011

O ponto final


...então fica assim, tu não me deve nada e eu não te devo nada, é isso, responde, to aqui te perguntando, é isso mesmo, não, porque se for, eu não to acreditando, viu, não to acreditando mesmo, to aqui achando que é brincadeira tua pra cima de mim, não to achando que é sério mesmo, não pode ser sério, tu nunca falou comigo desse jeito e nem quis simplificar nada desde que eu te conheço, ou tu tá se esquecendo de que quem sempre veio com essa mania de papo cabeça foi sempre tu, de que conversa faz aproximar, de que primeiro é preciso levar um lero, de que não dá pra ir chegando e ir beijando, ah, essa então foi bem no início, lembra, eu querendo muito beijar tua boca porque te vi e enlouqueci de vontade e na hora em que eu cheguei junto pra pegar de jeito, na vontade mesmo, tu olhou na maior seriedade e veio com a tal história de quem eu era pra chegar assim, que tu gosta de saber primeiro as idéia da cabeça da gente, que tu não fica por aí como se fosse manequim de vitrine que um chega e muda de lugar, muda os braço, muda as roupa, e eu tive que me concentrar muito nas palavra pra não enxergar só a boca mexendo dentro do meu olho que só queria parar de olhar pra fechar e sentir o gosto, mas não, tu encarnou naquele papo cabeça parecendo estudante de filosofia que quando começa com os argumento deixa a gente até doido de não entender nada, eu não tava era entendendo nada naquela hora ali, que papo era aquele, cara, que papo mais sem hora nem lugar de acontecer, se pra beijar ia rolar aquela porra, pra levar pra cama então não ia acontecer nunca porque eu não sou das universidade pra querer ficar nos diálogo por aí, mas bem que já tinham me falado que mulher já gosta de umas embromação de cabeça, universitária então faz a gente ficar com cara de otário, é aí que a gente acaba se rendendo mesmo pro tal do namoro, benzinho, tu me faz feliz, benzinho, me traz rosa que hoje é dia dos namorado, benzinho, eu vou ser tua pra sempre, benzinho, tu tá com ciúme “infundado” dos meus colega, ah, essa então foi duro de aguentar, o dia do tal do “infundado”, que tive que parar de brigar só porque não sabia o que era isso, e não queria mostrar que não entendi, e posso falar aqui mais de cento e setenta e sete idéia que tu levou na minha cabeça pra me deixar mais e mais na tua mão e agora tu me vem falando que não tem conversa, que não vai me ouvir, que não tem que se explicar, que a nossa conta tá acertada, que é pra eu dar a volta e não olhar pra trás, que ninguém deve mais nada pra ninguém, e tá achando que tu vai se safar dessa só porque eu fiz antes, porque tu ficou sabendo do meu caso com a Malu e entendeu minha carência, sei lá que porra de carência é essa palavra que tu tá usando só pra me enrolar mais uma vez e tá achando que eu vou por ponto final nessa frase, tá maluca, tá me achando com cara de corno manso, tá achando o caralho a quatro, tá achando que amor comigo é diferente da galera que é macho de verdade, tá achando o que, tá se achando, tá, então tá, taqui o ponto final que tu me pediu, taqui, ó, ah, mudou de idéia, lindinha, mudou, querendo mais não, ah, pedindo pra eu te dar umas reticência, que isso, querendo é ganhar tempo, sua vadia, mas agora é que eu vou por ponto final mesmo, agora é que tu vai ver como é que eu sempre te obedeci, agora que tu vai ver como eu aprendi português certinho, tu não vivia reclamando, me falando pra eu ler mais, pra aprender a pontuar as frase, usar tempo de vírgula no palavreado rápido que tu dizia que era tão rápido que não conseguia acompanhar minhas frase de maluco, então, vou te dar o ponto final na frase que tu sempre me pediu, me encheu o saco com esse tal de português correto, ponto final pra acabar com tudo de vez, com esse palavrório, com sua cara de vingada depois que passou a noite com o vizinho do condomínio do seu bairro metido a besta, pra acabar com a dor que tu colocou aqui bem no meio do meu peito que tá doendo que nem quando eu levei um murro de um colega quando eu ainda ia em alguma escola nessa vida, e que eu nunca mais esqueci porque fui embora chorando e apanhei mais ainda do pai porque levei calado e foi dessa vez que aprendi que nunca mais, viu, nunca mais eu ia levar calado, e tu achou, porque eu sempre fiquei atrás que nem idiota, tu achou que eu ia aceitar um negócio desse sem falar nada só porque eu nunca quis ficar de conversa quando tu vinha com os lero porque meu negócio nunca foi conversar, mas tu errou feio, gata, tu errou, e agora eu to aqui na maior vontade de, sabe o que, sabe o que, de te ferrar que nem bala perdida, isso mesmo, de acabar com essa metideza sua de palavreado difícil, de fazer tu calar pra sempre, pra sempre mesmo, sem direito nem de voltar em sessão espírita pra dar notícia pra ninguém, nem pra sua mãe, aquela imbecil que tentou de tudo pra acabar comigo, nem pra ela, que vai morrer junto se souber que tu passou pro andar de cima, capaz de me procurar ajoelhada e pedir pelo amor de Deus pra eu casar com tu e deixar essa história de vingança de lado, de que ela sempre me aceitou, que tu tava certa de se arranjar comigo porque tenho futuro mesmo e que não é pra eu estragar isso me metendo na cadeia, que ainda tem muita água pra rolar entre tu e eu, que isso, que aquilo, tu quer ver, tá escutando as sirene, eu sabia que logo ela ia fazer isso, aquela perua com cara de rainha que se acha mais que tudo, só porque economizou um pouco na vida e mandou a filha estudar as letra pra ensinar português, e ficou sonhando que tu ia se casar com advogado rico, eu sabia, mas todo mundo tá achando que não vai ter ponto final, que eu é que vou me ferrar, todo mundo, pois aqui, ó, taqui, taqui pra tu nunca mais dizer que eu não fiz o que tu me pediu e nem que eu não sei escrever direito, taqui, porque toda frase acaba com o ponto final, né isso, neguinha, então olha pra mim, ó, olha bem, ta olhando, ta olhando, então taqui, sua burra, achou que se soubesse português ia se safar nessa vida, tu é muito é burra mesmo, fez burrice comigo, que pra mim português não vale nada, mulher minha tem é que ter conduta, não teve, se ferrou, emburreceu, e agora vai ter o que tu merece, era as pontuação que tu queria, é, sua professora de merda, então taqui, ó, olha bem pra mim com essa cara de apavorada, olha, porque ponto final que nem esse tu nunca mais vai ver e nem pedir, olha bem, escuta o barulho das sirene que não vai chegar ninguém no tempo, ninguém pra ver tu ganhando esse ponto final, taqui, meu benzinho, taqui, ó, taqui seu maldito ponto final.

(da Série: "O amor de cada um", n.12)



sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O amor de sempre em quando

Então, depois de setembro e as flores da primavera, chegou outubro...e hoje acordei pensando no amor, em como ele se apresenta das mais variadas formas, em letras que acabei usando pra falar sobre “O amor de cada um”, e assim vou tecendo uma colcha de pequenas histórias, muitas inventadas, pra registrar encontros, desencontros, enganos, rasgos de felicidade, fantasias, momentos de desesperança, traços de loucura, noites de amor intenso, alegrias e surpresas que o sempre amor nos traz...

...não sei viver sem amor...em tudo o que faço, penso, ouço, escrevo, canto, ouso, trabalho...

...por isso, deixo Adélia Prado falar por mim,

Amor é a coisa mais alegre
amor é a coisa mais triste
amor é coisa que mais quero.
Por causa dele falo palavras como lanças.
Amor é a coisa mais alegre
amor é a coisa mais triste
amor é coisa que mais quero.
Por causa dele podem entalhar-me,
Sou de pedra sabão.
Alegre ou triste,
amor é coisa que mais quero.
(O sempre Amor/Adélia Prado)



...e ainda pensando em poemas, um pouco de Drummond,

Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.


Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
Reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.
(Não se Mate/(recorte) – Carlos Drummond de Andrade)


...e como amor e música estão onde me encontro, acabo meu passeio de hoje desejando ouvir “Anuário”, que me faz pensar que o amor é de cada um, e que se mostra pra cada um em um mês qualquer, em um momento qualquer, de um jeito qualquer, e que é preciso saber recebê-lo sempre, em que tempo for...

“Setembro sempre
Me encontrou solteiro
Depois outubro amor involuntário”
(Anuário/Sérgio Santos e Paulo César Pinheiro)

http://www.radio.uol.com.br/#/letras-e-musicas/alda-rezende/anuario/31494




segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Letras de primavera


...agora nada que ele dissesse ou fizesse poderia trazer alegria de volta ao seu coração, pensou...

...ficou olhando de soslaio, enquanto descobria a traição ali, bem debaixo da árvore onde costumavam se esconder...

...contou um, três, oito, dezesseis, esqueceu de como continuar e desistiu de contar...os minutos podem ficar lentos, às vezes, concluiu, já que os números contados não finalizaram a cena...

...aflição, afliçãozinha, afliçãozona, vou embora antes que me vejam, vou jogar fora todos os presentes que ganhei no verão, no outono, no inverno, esperando essa primavera de choro chegar...

...correu pra sala de aula...escondeu-se na última cadeira, encostada na parede, onde uma janela verde convidava pra fuga em caso de emergência...

...então ele chegou atrasado, com cara de não fiz nada, trazendo ramalhete de flores pequenininhas e coloridinhas e correu pra onde ela se encontrava pra lhe entregar...

...surpresa com o acontecido, ela pensou duas vezes se recusava, mas não resistiu e com tristeza de menina enganada, perguntou-lhe como foi capaz de levar a professora pro esconderijo deles, no primeiro dia da primavera...

...sem entender o tom de mágoa, radiante com o feito, explicou-lhe que alguém teria que ajudá-lo a combinar as flores do jeito que as meninas gostam, e que só lá no jardim, perto da árvore, conseguiram reunir tantas e belas...

...com o alívio estampado no sorriso, ela aceitou o mimo de chegada da primavera e entendeu, pela primeira vez, que outros enganos viriam ao olhar e que, nessas horas, palavras trazem calmaria ao coração...

...mais um dia de aula...ventos de afeto levando prá longe nuvens de poeira que teimam em cercar as histórias de amor, desde muito cedo...

(da Série: "O amor de cada um", n.11)




sábado, 13 de agosto de 2011

Ao encontro


E naquela manhã acordou sem saber ao certo se havia sonhado com ele, que já havia partido há meses, ou se ele realmente estivera em seu quarto, trazido pela luz dourada que ainda deixava sinais pela fresta da janela...

O coração tornou-se pesado e começou a chorar...choro de dor, de mágoa, pela partida precoce de alguém tão amado...

Como fazer pra que essa dor passe? Era a pergunta de todos os dias quando se sentia obrigada a acordar...relutava por horas a abrir os olhos. Sabia que teria que enfrentar toda aquela realidade confusa que preferia esquecer, apesar do vento que empurrava as folhas do calendário diariamente e fazia o tempo passar...mas dor nem sempre passa com o tempo, era a resposta que se transformara em repetição, quando a visitavam pra lhe consolar.

Aquela manhã se apresentou com a diferença do encontro. Nunca antes ele havia voltado, nem em sonho, nem nas visitas aos locais onde diziam que ele mandaria mensagens, nem em nenhum outro lugar.

Resolveu não dizer nada pra ninguém, já que conhecia o olhar de descrédito que lhe lançariam...vestiu-se com esforço, abriu as janelas, deixou entrar ar no quarto que permanecia mais fechado que aberto e percebeu, ao encontrar a luz do sol, que ele estivera ali pra lhe dizer que o melhor era que ela voltasse a viver. Só assim ela poderia verdadeiramente reencontrá-lo.

domingo, 26 de junho de 2011

A prisioneira


...e então ela entrou correndo na venda, tentando se esconder dele, que não iria desistir de convencê-la a se entregar...

...coração aos pulos, enfiou-se atrás do balcão e fez sinal de silêncio em direção a Seu Virgílio pedindo, com olhar de súplica, que ele se tornasse seu cúmplice.

...ele entra derrubando tudo pela frente e grita: “pode sair, sei que cê tá aqui, vi quando entrou, sua meliante!”...

Silêncio reina absoluto. Ninguém diz nada, mas todos parecem estar acostumados com aquela perseguição...

Seu Virgílio espera, sem culpa alguma por se tornar do lado de lá, que ele desista e vá embora...

“Seu Virgílio, vou contar até dez, e se ela não se entregar por vontade, vou ter que invadir, viu?”

Novamente, ausência de palavras...

Os números vem a surgir em bom e alto som: “Um, dois, três...nove...”

...a cabeça começa a despontar, toda suja de farinha, e ela se dá por vencida, sem levantar os olhos pra encontrar com os dele...

“Aha! Eu sabia! Tá presa!”

Ele pega a corda e quando se aproxima, Seu Virgílio espalha a voz grossa pelo ar da venda:

“Ôs menino...eu fico muito agraciado de ocês brincar aqui na minha rua, porque risada de criança faz nós esquecer do lado da dureza que a vida traz...mas já pedi umas tantas vez e vô ter que acabar falando com o pai do cês...invadir minha venda pra brincar de bandido e delegado, num vai dá mais não, certo? Cês dão um jeito de fazer essa cena final lá pras banda da pracinha, que lá num tem nada pra mode ocês quebrar nem estragar...”

Ela e ele, meio acabrunhados, balançam a cabeça firmando o acordo, mas já na rua eles segredam que Seu Virgílio “bem que gosta de ver nós correndo pra cá ... e que na pracinha não vai ter a menor graça...lugar de esconder bandido é na venda do Arraial mesmo...”

...e assim, com a prisão de Danira decretada, mais uma tarde de sábado vai se desenhando em Virmaria, com os contornos das crianças do lugar...

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Frio de junho

O frio, o vento, os dias de junho causavam-lhe um aumento do desejo de não estar só. E não era só porque todos que se amavam, os tais namorados, comemoravam a data, mas porque seu corpo parecia encolher em busca de um agasalho que ela esperava ser feito de pele de moço - ela começa a me contar - e assim passou a só pensar nisso.

Fazia um tempo buscava esse agasalho... não por opção estava só, apesar de muitos entenderem assim...era jovem, bonita, tinha sido alegre até bem pouco tempo, não havia porque não encontrar um olhar que se sentisse preso ao seu e desejasse com ela dividir os dias...as pessoas não entendiam, então, sua solidão...

Primeiro, buscou distração nos cinemas da cidade, quando se foi embora o último namorado... sentiu nenhuma vontade, logo naqueles dias, de conhecer alguém...e os filmes passaram a ser companhia diária...deleite em suas tardes...

Depois se cansou, virou repetição, dias passaram a ser longas tardes sem final, e dormir virou uma obrigação para que ela não se encontrasse com a madrugada ainda sem sono e perdesse o trabalho na manhã seguinte.

Meses assim... até o frio chegar e, com ele, o tal pensamento no agasalho...

Achou que levariam ele a ela... desejou, esperou, desesperou, e saiu num fim de domingo certa de que naquele dia voltaria com ele nos braços...

Vagou pelo parque até tarde da noite...

Não voltou nem no domingo, nem na segunda.

Deram por sua falta...

Demoraram um pouco pra reclamá-la como desaparecida.

Encontraram-na, vagando na estrada que segue ao encontro da cidade vizinha...  descalça, cabelos em desalinho, agasalhada em pedaços de pele de um homem, retalhos de um corpo encontrado na beira do lago do parque, que ela insiste em dizer não conhecer com esse sorriso estranho no rosto, enquanto me fala essas palavras sem sentido que aqui tomo em depoimento. Melhor chamar o psiquiatra de plantão no posto médico. Aqui, na delegacia, essa jovem não pode mais ficar.

(da Série: "O amor de cada um", n.10)

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Certas palavras

“[...] O mundo é isso, revelou: um monte de gente, um mar de foguinhos.
Não existem dois fogos iguais.
Cada pessoa brilha com luz própria, entre todas as outras.
Existem fogos grandes e fogos pequenos, e fogos de todas as cores.
Existe gente de fogo sereno, que nem fica sabendo do vento, e existe gente de fogo louco, que enche o ar de faíscas.
Alguns fogos, fogos bobos, não iluminam nem queimam.
Mas outros...outros ardem a vida com tanta vontade que não se pode olhá-los sem pestanejar, e quem se aproxima se incendeia!”


... de que fogo é você? 
Acho que sou feita do fogo das letras 
... e quando me deparo com certas palavras, 
sou tomada pelo desejo imenso de compartilhá-las com o mundo... 
Assim, elas não se perdem com o tempo...



sexta-feira, 13 de maio de 2011

Retrato apagado

Essa história começou aos 72, quando ninguém mais, em casa, se importava com ela. Ninguém mesmo, nem o cachorro, que antes vinha lhe roçar a perna, querendo um resto de comida.

Mas da noite pro dia se percebeu invisível... invisível mesmo, desses desenhos que vão se apagando com o tempo até ninguém mais enxergar. Descobriu-se, então, um desenho apagado. Foi daí que pensou em ir embora, já que destino de desenho apagado é cesta de lixo, quando não o amassam antes.

Não entendia como isso tinha acontecido. Antes se sentia tão importante em casa... Acordava, fazia café, alimentava os netos, mandava pra escola, depois cuidava deles até a filha voltar, lavava roupa, varria casa e tudo o que uma dona de casa tem que fazer ela fazia, mesmo com o adiantado da idade. E no fim da noite ganhava benção, beijo, “brigado, Vó”, “você é demais”, “não sei o que faria sem você por perto, mãe”, e muitas palavras dedicavam a ela, e assim foi por muito tempo.

Mas aí percebeu que as palavras foram minguando. Pensando bem, não foram as palavras que minguaram primeiro...foi ela mesmo, pensou, com certa dor... Começou uma coisa primeiro, depois outra, tudo devagar e em silêncio... Numa manhã de frio não conseguiu se levantar, como de costume...aí a filha reclamou porque desse jeito ela ia sair pro trabalho atrasada e os meninos não iam comer antes da escola. Ouviu tanta reclamação em tom diferente que nem contou que sentia uma dor aguda no peito que não a deixava se levantar...achou que alguém iria lá, no quarto, ver o que acontecera...até que o caçula foi, pra olhar se ela estava de olho aberto, e gritou pra mãe “A Vó acordou sim, mas tá com preguiça, viu, mãe, porque só olhou pra mim e fechou o olho de novo.” Ouviu a filha dizer, com raiva: “Mais essa, agora...então “vão bora”, gente, porque não tenho tempo pra preguiça, não.”

Depois desse dia, nunca mais as coisas foram como antes...pra levar no médico, a filha reclamava...pra ajudá-la com qualquer coisa, mandava os meninos...e foi assim que ela começou a minguar. E foi assim que as palavras de casa, pra ela, minguaram também...

Depois de um tempão à míngua, lembrou-se de quando era criança, da D. Antônia, que vivia nas ruas da sua cidade, comendo da caridade dos outros, mas pelo menos teve linha de contorno até morrer...não ficou invisível não, isso ela se lembrava...as crianças mesmo iam pra praça só pra ouvir as histórias engraçadas que a D. Antônia contava...ela era uma que ia. Ia tanto que, às vezes, até voltava pra casa com puxão de orelha da mãe, quando se esquecia das horas da noite. A idéia de virar D.Antônia começou com essa lembrança. Veio desse jeito, depois que passou um dia inteiro esperando alguém perguntar se ela queria comer e viu que tinham, mais uma vez, se esquecido dela...lá pelas tantas, alguém falou: “Vixe, a Vó tá no quarto até agora!”...aí levaram uns tantos pra ela, coisa pouca, que até coube em prato de criança, justificado pelo “Ce não gosta dessa comida mesmo, ne, Vó?”...

Começou a pensar que a D.Antônia foi mesmo esperta, pois contava que fugiu da casa do filho quando a nora passou a implicar com ela, “pra não virar objeto feio de decoração que o dono não devolve pra loja porque não tem coragem”. A primeira vez que ouviu D.Antônia falar isso achou que era brincadeira dela...depois, de tanto ouvir suas histórias e observar os velhinhos da cidade, começou a entender. E agora parecia entender mais ainda essa história de velhice...e depois de uns meses nessa agonia de se ver sumindo dos olhos da casa, tomou a decisão de imitar D.Antônia...

Planejou tudo direitinho. Primeiro ia ter que sair da cama, pra fazer as pernas se acostumarem com o andar de novo...mesmo que devagar...não ia ficar andando na rua mesmo...já resolvera tudo...ia ficar sentada na esquina da rua da padaria do bairro do lado e ali iam lhe dar comida e todo o resto que morador de rua precisa pra não morrer de frio. A filha nunca ia mesmo ao bairro do lado, nem ia se lembrar de procurá-la lá, tanta raiva tinha do lugar onde o marido conheceu a menina de 20 anos que levou ele embora...

Então, toda vez que ficava sozinha, dava uns passos pela casa, se aprumava um pouco, ia treinando, até sentir que o dia de fuga chegava mais perto.

E chegou...foi no dia que as crianças tinham uma feira na escola e a filha nunca faltava quando era coisa de escola dos meninos. Ouviu as combinações que eles fizeram lá na sala...e começou a combinar com seu pensamento a sua saída, pra sempre, de lá. Pensou que ia ser pra sempre porque nessa vida uma coisa era certa: gente esquecida não volta, não volta mesmo, se ninguém vê, imagina lá se vai procurar?

Então foi assim que essa história acabou... ela preparou tudo, esperou eles saírem, tomou coragem e foi embora...

Na cama, deixou uma folha em branco, amassada...um retrato da sua imagem invisível, sem dedicatória e sem letra de despedida...







domingo, 8 de maio de 2011

Então, uma mãe...

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...ela vinha andando com o papel na mão, sem saber se ria ou chorava, coisa mais chavão essa de ficar dividida entre alegria e pesar, ao se saber mãe...

...ele ia dizer, não, não dá, não quero, vai ter que tirar, comigo só se for sem filho...

...aflição medonha essa de não saber se vai direto pra casa dele falar o resultado ou se esconde por uns dias até resolver, sem ele, o que fazer...

...sem se dar conta da direção dos passos se vê chegando, enfim, aonde ele chama lar, pensa assustada, pronto, os passos decidiram por mim, não tem mais jeito agora...

...debruçado ele está na janela e só de olhar pra cima ela sabe que ele já sabe o resultado só de vê-la chegar...

....ele corre pra abrir a porta e antes que ela diga coisa alguma ele sussurra em seu ouvido, passando as mãos grossas entre suas lágrimas, amanhã a gente vai comprar dois presentes de dia das mães, um pra sua mãe e outro pra você...

(da Série: "O amor de cada um", n.9)

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Atrás do sol...

...Precisando seguir nessa estrada...


domingo, 17 de abril de 2011

Meu dia de medo

.
.
Às vezes a vida nos atropela

com acontecimentos inesperados... l i t e r a l m e n t e ...

A possibilidade de perder quem se ama

nunca deveria existir...r e a l m e n t e ...

Fazer o quê, a não ser insistir

no que a gente acredita ser a vida ... d i a r i a m e n t e ...

Nossa maneira de lidar com a angústia,

que diante da morte

se apresenta ... i n v a r i a v e l m e n t e ...

Aquele dia veio e se foi, e me deixou sem palavras

por momentos, amedrontada, sem saber ao certo

se tudo aconteceu ...v e r d a d e i r a m e n t e ...

..........só me resta prosseguir..................

...........i n s i s t e n t e m e n t e......................



"E o pensamento lá em você
Eu sem você não vivo
Um dia triste
Toda fragilidade incide
E o pensamento lá em você
E tudo me divide” (Djavan)

terça-feira, 5 de abril de 2011

Pra quem gosta...

...de ouvir sons...

...não é pra todo mundo, é verdade...acho que é pra quem gosta. Eu, por exemplo, quando acordo cedinho consigo ouvir os passarinhos que brincam pelo jardim aqui do prédio.

...não é pra todo mundo...mas eu consegui morar num lugar assim, bem no meio de uma cidade...

...aí, vem uma Tulipa cantar uma música dessas? Não dava pra deixar de mostrar aqui...

...mas é pra quem gosta...eu gosto...de árvore, de passarinho, de flor, de música e de gente que faz música!


                                   

domingo, 27 de março de 2011

Domingo

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Domingo de preguiça...e eu, só pensando em ficar "...qual luar, sobre a praia para ficar bem..."

                                                

segunda-feira, 21 de março de 2011

O Outono

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Primeiro era o calor, e muito...depois a água que desceu do céu...

Que venha o outono... e que seja, esse ano, definido, como o sopro de um início de frio a nos preparar para o inverno...


"Outonos tons me convidam pra sair "... (Regina Souza)


terça-feira, 15 de março de 2011

Alegria plena

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Hoje é dia de Letícia...

...hoje é dia de alegria, plena, estampada em seu sorriso, no significado de seu nome, na delicadeza com que pronuncia “Dindinha”, em seus gestos de generosidade, na felicidade que sentimos por tê-la entre nós.

Hoje é dia de Letícia...há onze anos iluminando o caminho por onde passa e a vida de quem tem o prazer de com ela conviver...

Celebremos!


sábado, 5 de março de 2011

Que venha o samba!

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"É samba que eles querem, nada mais!"

Salve Jackson do  Pandeiro!


sexta-feira, 4 de março de 2011

"Chica Chica Boom Chic"

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Meu coração faz "chica chica boom chic"
enquanto o carnaval não vem...


domingo, 20 de fevereiro de 2011

Yes, nós temos carnaval!

                                            (Mamá na Vaca/foto: Daniel Iglesias)


No ano passado escrevi aqui sobre a novidade de estar em Belo Horizonte no carnaval...

Esse ano não vai ser diferente, quer dizer, pelo que tenho lido sobre os preparativos, ouso dizer que vai ser melhor. O movimento carnavalesco de BH, iniciado pela moçada atuante no cenário cultural da cidade que está conseguindo fazer ressurgir os blocos de rua em nossos bairros, vai dar o que falar em 2011.

Não sei o que o nosso prefeito vai fazer, diante da constatação de que seu decreto só fez injetar mais garra e vontade na galera por uma cidade melhor, livre de leis que amordaçam o cidadão e limitam a cultura de circular livre entre os belorizontinos.

Yes, nós temos carnaval. E pra quem quiser saber mais, vejam os links abaixo!

Vejo vocês na Praça Cairo!

http://www.otempo.com.br/jornalpampulha/

http://colunistas.yahoo.net/posts/8773.html

http://castelodopoeta.blogspot.com/2011/02/biblioteca-juliana-borges.html

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Pão e mel

 




...a gente bem que tenta resistir, mas a verdade é que um bom doce tem sua hora e lugar...

Tenho uma amiga que se dedica a preparar, com mãos de fada, pães de mel maravilhosos...

Posso assim dizer porque tive o prazer de experimentá-los em noite de anos Cris, onde o mimo derreteu o coração dos convidados ao findar da festa...

Fica, então, meu convite...

...permitam-se espiar...e quem se sentir tentado, corra atrás de saciar o desejo...verá que vale a pena...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

De amor e medo


Nada em seu olhar parecia denunciar a saudade guardada...

Dias sem voltar, vagando por estradas distantes, medo de estar novamente diante dele e de novo constatar que não se podia mudar nada da história dos dois.

Mas então acabou tudo o que tinha levado pra mantê-la longe do desejo, e, já sem forças no corpo sem alimento, não lhe restou outra saída a não ser buscar o caminho de volta...

Voltou a passos lentos, mas voltou...

Pediu primeiro água, uma vez os lábios secos, sem condição de emitir som da garganta nas condições em que se encontrava...

Depois arriscou algumas mordidas no que lhe ofereceram por caridade...

Aos poucos foi voltando a si...

Aos poucos se olhou no espelho e descobriu a imagem que, sem saber, escolhera pra fugir de si mesma...

Arriscou a se aproximar do endereço de onde saíra, decidida a não mais retornar por falta de coragem...

Arriscou...espiou...então viu...

De longe viu, e viu e viu...

O que viu foi suficiente...

No amor, ou se arrisca, ou se perde...

Demorou a voltar...demorou a deixar seu nome assinado onde cabia...

Em seu lugar, outro olhar dirigido a ele...ouviu as risadas que seriam pra ela...

Não se arriscou quando ainda era possível...

Pegou o caminho contrário...

Sem saída, de novo iria buscar estrada...

Alguém haveria de cuidar daquilo que um dia fora seu coração...
(da Série: "O amor de cada um", n.7)  


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

...

Tá difícil deixar minha alma voltar das férias...

ando vagarosa...

...qualquer hora dessas deixo minhas letras retornarem de verdade, sem enrolação...

domingo, 30 de janeiro de 2011

Estrela e sonhos

.
.
Nunca fui tão criança nesse janeiro...e ali, diante do castelo, das luzes dos fogos que brincavam de fazer desenhos no céu e da lua cheia que aumentou minha emoção, abraçada ao meu menino, foi impossível não sonhar e não molhar os olhos...

"When you wish upon a star
Makes no difference who you are
Anything your heart desires
Will come to you
If your hearts is in your dream
No request is too extreme
When you wish upon a star
Like dreamers do
Fate is kind
She brings to those who love
The sweet fulfillment of
Their secret losing
Like a bolt out of the blue
Fate steps in and pulls you through
When you wish upon a star
Your dream comes true"

sábado, 1 de janeiro de 2011

Feliz 2011!

                           2011
...a alegria é nossa, ao te ver chegar! 
...e que essa alegria se espalhe entre nós...


Ode à Alegria / Ode to Joy / An Die Freude - Ludwig Van Beethoven
Cantada por: The Ambrosian Singers;Philharmonic Symphony of London;The Ambrosian Singers