...então fica assim, tu não me
deve nada e eu não te devo nada, é isso, responde, to aqui te perguntando, é
isso mesmo, não, porque se for, eu não to acreditando, viu, não to acreditando
mesmo, to aqui achando que é brincadeira tua pra cima de mim, não to achando
que é sério mesmo, não pode ser sério, tu nunca falou comigo desse jeito e nem
quis simplificar nada desde que eu te conheço, ou tu tá se esquecendo de que
quem sempre veio com essa mania de papo cabeça foi sempre tu, de que conversa
faz aproximar, de que primeiro é preciso levar um lero, de que não dá pra ir
chegando e ir beijando, ah, essa então foi bem no início, lembra, eu querendo
muito beijar tua boca porque te vi e enlouqueci de vontade e na hora em que eu
cheguei junto pra pegar de jeito, na vontade mesmo, tu olhou na maior seriedade
e veio com a tal história de quem eu era pra chegar assim, que tu gosta de
saber primeiro as idéia da cabeça da gente, que tu não fica por aí como se
fosse manequim de vitrine que um chega e muda de lugar, muda os braço, muda as
roupa, e eu tive que me concentrar muito nas palavra pra não enxergar só a boca
mexendo dentro do meu olho que só queria parar de olhar pra fechar e sentir o
gosto, mas não, tu encarnou naquele papo cabeça parecendo estudante de
filosofia que quando começa com os argumento deixa a gente até doido de não
entender nada, eu não tava era entendendo nada naquela hora ali, que papo era
aquele, cara, que papo mais sem hora nem lugar de acontecer, se pra beijar ia
rolar aquela porra, pra levar pra cama então não ia acontecer nunca porque eu
não sou das universidade pra querer ficar nos diálogo por aí, mas bem que já
tinham me falado que mulher já gosta de umas embromação de cabeça,
universitária então faz a gente ficar com cara de otário, é aí que a gente
acaba se rendendo mesmo pro tal do namoro, benzinho, tu me faz feliz, benzinho,
me traz rosa que hoje é dia dos namorado, benzinho, eu vou ser tua pra sempre,
benzinho, tu tá com ciúme “infundado” dos meus colega, ah, essa então foi duro
de aguentar, o dia do tal do “infundado”, que tive que parar de brigar só
porque não sabia o que era isso, e não queria mostrar que não entendi, e posso
falar aqui mais de cento e setenta e sete idéia que tu levou na minha cabeça
pra me deixar mais e mais na tua mão e agora tu me vem falando que não tem
conversa, que não vai me ouvir, que não tem que se explicar, que a nossa conta
tá acertada, que é pra eu dar a volta e não olhar pra trás, que ninguém deve
mais nada pra ninguém, e tá achando que tu vai se safar dessa só porque eu fiz
antes, porque tu ficou sabendo do meu caso com a Malu e entendeu minha
carência, sei lá que porra de carência é essa palavra que tu tá usando só pra
me enrolar mais uma vez e tá achando que eu vou por ponto final nessa frase, tá
maluca, tá me achando com cara de corno manso, tá achando o caralho a quatro,
tá achando que amor comigo é diferente da galera que é macho de verdade, tá
achando o que, tá se achando, tá, então tá, taqui o ponto final que tu me pediu,
taqui, ó, ah, mudou de idéia, lindinha, mudou, querendo mais não, ah, pedindo
pra eu te dar umas reticência, que isso, querendo é ganhar tempo, sua vadia, mas
agora é que eu vou por ponto final mesmo, agora é que tu vai ver como é que eu sempre
te obedeci, agora que tu vai ver como eu aprendi português certinho, tu não
vivia reclamando, me falando pra eu ler mais, pra aprender a pontuar as frase,
usar tempo de vírgula no palavreado rápido que tu dizia que era tão rápido que
não conseguia acompanhar minhas frase de maluco, então, vou te dar o ponto
final na frase que tu sempre me pediu, me encheu o saco com esse tal de
português correto, ponto final pra acabar com tudo de vez, com esse palavrório,
com sua cara de vingada depois que passou a noite com o vizinho do condomínio do
seu bairro metido a besta, pra acabar com a dor que tu colocou aqui bem no meio
do meu peito que tá doendo que nem quando eu levei um murro de um colega quando
eu ainda ia em alguma escola nessa vida, e que eu nunca mais esqueci porque fui
embora chorando e apanhei mais ainda do pai porque levei calado e foi dessa vez
que aprendi que nunca mais, viu, nunca mais eu ia levar calado, e tu achou,
porque eu sempre fiquei atrás que nem idiota, tu achou que eu ia aceitar um
negócio desse sem falar nada só porque eu nunca quis ficar de conversa quando
tu vinha com os lero porque meu negócio nunca foi conversar, mas tu errou feio,
gata, tu errou, e agora eu to aqui na maior vontade de, sabe o que, sabe o que,
de te ferrar que nem bala perdida, isso mesmo, de acabar com essa metideza sua
de palavreado difícil, de fazer tu calar pra sempre, pra sempre mesmo, sem
direito nem de voltar em sessão espírita pra dar notícia pra ninguém, nem pra
sua mãe, aquela imbecil que tentou de tudo pra acabar comigo, nem pra ela, que vai
morrer junto se souber que tu passou pro andar de cima, capaz de me procurar
ajoelhada e pedir pelo amor de Deus pra eu casar com tu e deixar essa história
de vingança de lado, de que ela sempre me aceitou, que tu tava certa de se
arranjar comigo porque tenho futuro mesmo e que não é pra eu estragar isso me
metendo na cadeia, que ainda tem muita água pra rolar entre tu e eu, que isso,
que aquilo, tu quer ver, tá escutando as sirene, eu sabia que logo ela ia fazer
isso, aquela perua com cara de rainha que se acha mais que tudo, só porque
economizou um pouco na vida e mandou a filha estudar as letra pra ensinar
português, e ficou sonhando que tu ia se casar com advogado rico, eu sabia, mas
todo mundo tá achando que não vai ter ponto final, que eu é que vou me ferrar,
todo mundo, pois aqui, ó, taqui, taqui pra tu nunca mais dizer que eu não fiz o
que tu me pediu e nem que eu não sei escrever direito, taqui, porque toda frase
acaba com o ponto final, né isso, neguinha, então olha pra mim, ó, olha bem, ta
olhando, ta olhando, então taqui, sua burra, achou que se soubesse português ia
se safar nessa vida, tu é muito é burra mesmo, fez burrice comigo, que pra mim
português não vale nada, mulher minha tem é que ter conduta, não teve, se ferrou, emburreceu, e
agora vai ter o que tu merece, era as pontuação que tu queria, é, sua
professora de merda, então taqui, ó, olha bem pra mim com essa cara de
apavorada, olha, porque ponto final que nem esse tu nunca mais vai ver e nem
pedir, olha bem, escuta o barulho das sirene que não vai chegar ninguém no tempo,
ninguém pra ver tu ganhando esse ponto final, taqui, meu benzinho, taqui, ó, taqui
seu maldito ponto final.
(da Série: "O amor de cada um", n.12)
(da Série: "O amor de cada um", n.12)
...meu dia de Rubem Fonseca...porque "o amor de cada um" nem sempre é romântico...
ResponderExcluir...e cada ponto final tem a história que merece!!
ResponderExcluirBelezura de texto, Juliana, uma "desobediência" e tanto, rsrs...
Nossa, Jú! Arrasou!!!! Belo texto!
ResponderExcluirObrigada, Geruza Daconti e Vânia de Morais. Pena que essas histórias não ficam só na ficção; ontem mesmo vi uma matéria sobre o aumento da violência usada pelos homens quando são rejeitados na relação amorosa. Então, nada de colocar um ponto final nesse assunto, não é mesmo? Beijos e voltem sempre!
ResponderExcluirBacana demais!!Bj.
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