quarta-feira, 21 de abril de 2010

Retratos de Família 2 ou "As lembranças dos Borges"

.
Aqui nessa casa são cinco: o pai, a mãe e os meninos, que são três. A mãe conheceu o pai há 20 anos, e os dois meninos também, que tinham na época 7 e 8 anos. Assim começou a história dessa família. A mãe e o pai namorando, os meninos sempre juntos, até o namoro virar casamento. Depois de um tempo, o menino mais novo chegou e foi uma alegria grande – lá se vão nove anos e um mês, desse dia.

Os cinco na mesma casa, um cotidiano se desenhando e momentos importantes sendo guardados dentro de mim. Fico dentro do armário do escritório e, quando não querem se esquecer de alguma coisa, me tiram de lá, abrem minha tampa e com todo cuidado deixam dentro de mim um pedacinho de valor da família. Já guardo muitas coisas: fotos, frases, músicas que os meninos fazem, lembranças, amigos, nem sei como cabe tanta coisa aqui comigo.

Hoje vieram me buscar. Parece que querem rever os guardados pra que o filho mais novo possa contar na sua escola. Lá, eles fazem uma festa pra que as famílias mostrem como são, e cada ano tem um jeito diferente de fazer isso. Escuto vozes. O mais novo, com aquela pressa da infância, vai procurando logo o que quer rever. A mãe pede calma e eu me preparo para uma invasão inesperada. Ainda não me acostumei a ser tirado do meu sossego habitual.

Os momentos valiosos vão sendo retirados, um a um: encontros de Natal, almoços de domingo, comida da Vovó Jane, aniversário dos meninos de casa, a chegada do cachorro, as idas à Brasília pra rever as primas, passeios no sítio do Vovô Caldeira, as partidas do Cruzeiro no Mineirão com o pai, churrasco dos Borges na Tia Marina, idas ao cinema com a mãe, comer Petit Gateau pra comentar no blog do Tio Augusto, os shows dos meninos mais velhos, as leituras do livro do Tio Marcos, idas à casa da Tia Bia visitar Vovô Geraldo, as espiadas das fotos da Vovó Nely pra matar saudade...tanta coisa essa família gosta de fazer...

A mãe fala pro filho mais novo que ele precisa guardar em mim a presença dos irmãos. “Lembra?” – ela diz – “Quando você precisa deles e liga, eles estão sempre aqui pra te ajudar.” Ele balança a cabeça e vai listando: “os ensaios com a sua música, os conselhos do Guto, suas opiniões valiosas, a paciência do Rodrigo pra resolver as mil histórias com o playstation, com as compras dos “bakugans” pela internet”, tanta moda que ele inventa que só mesmo os irmãos pra acompanhar.

A família fica em torno de mim uma tarde inteira. Acho que gostaram de me abrir pra rever seus tesouros, como costumam dizer. Ao terminarem, guardam tudo de novo, me fecham e me levam de volta ao meu velho canto, no escritório.

Lá vão eles pro Libertas, levando um pouco de mim pra ilustrar a manhã de sábado no “Retratos de Família”. Fico aqui, no meu lugar, sem querer ser nada mais nada menos do que sou: o velho baú de lembranças dos Borges, que a cada ano se torna mais valioso a essa família.

(Escrito para o varal do "Retratos de Família", em 17/04/2010)

Nenhum comentário:

Postar um comentário