quarta-feira, 21 de abril de 2010

Retratos de Família 1

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No sofá da sala passo páginas amareladas de um álbum de família. Procuro a foto preferida de minha avó Rosa, uma das poucas tiradas com toda a família reunida, ela, o avô Theo, meus tios e minha mãe na praça da cidade, retratados com roupa de domingo e ares de felicidade.

Minha avó me contava sempre aquela história... Naqueles tempos era dia de festa o dia em que um retratista chegava à cidade. As famílias se reuniam para registrar momentos que se dissipavam com o tempo, para guardar no retrato a alegria de estar ali, entre os seus, entre laços capturados na fotografia. Simples assim, a maneira de se divertir e de compartilhar os domingos.

Sinto-me feliz e cúmplice de minha avó. Acabo de chegar do Libertas, após uma manhã de “Retratos de Família”, onde me reencontrei com suas lembranças e escrevi um pedaço de minha história para contar aos meus netos. Poderei lhes contar como preparávamos frutas e bolos para um café coletivo, numa manhã de encontros com famílias vindas de muitos lugares diferentes, reunidas numa escola em que havia espaço para nossas crianças existirem junto de nós. Direi a eles que nessa festa havia um palco para que um pouco de cada um se apresentasse de seu jeito, de sua arte, de sua parte de uma família que estava ali para assistir. Contarei ainda da importância de estarmos nesses encontros, conhecendo mais de perto a escola, os amigos de nossos filhos, as famílias de nossas crianças, a liberdade das brincadeiras no pátio.

Ali não havia um retratista, como nos tempos de minha avó, mas com certeza havia alegria, e essa foi registrada por cada criança presente, por cada pedaço de coração emocionado, por cada família comprometida com a escolha por uma escola diferente, que pode nos proporcionar momentos simples assim como as praças em manhã de domingo. Inesquecíveis. Emoldurados pra sempre em nossas memórias, como pra sempre os retratos de família continuarão a existir nas paredes da sala de nossas avós.

(Publicado no "Palavras Libertas" n.08, em julho de 2008)

2 comentários:

  1. Juliana,
    por sugestão sua, vi o Palavra Encantada em Salvador na casa da Marina. Suas sugestões são sempre boas, mas continuo preferindo, de longe seus textos.
    Augusto

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  2. Augusto, muito obrigada, mas acho que ainda preciso de muitas letras no caminho pra chegar perto desses artistas que indico. De qualquer maneira, seus comentários são um incentivo pra que eu continue com esse projeto. Nem sempre as letras querem surgir com facilidade, e é por isso que entre um texto e outro os intervalos se prolongam.
    Abraços, Juliana.

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