domingo, 13 de setembro de 2009

Homem tem que ser durão?

Dia desses, enquanto me encontrava presa ao nosso mar de carros que se tornou paisagem constante da cidade que habitamos, ouvi uma canção que adoro - Coqueiro Verde - que me distraiu por completo do caos ao meu redor.

Não sei se pelo desejo de me desligar do som incessante da orquestra das buzinas, cantarolei a música, desta vez, muito atenta à letra, que às vezes nos passa despercebida, numa injustiça sem fim àqueles que as compõem.

Acho a música deliciosa e a letra nos traz um dos temas que mais inquietam homens e mulheres do nosso planeta: o desencontro amoroso. O interessante é perceber como o homem, na música, tenta resolver o dilema – esperar eternamente ou ser durão, desistindo, por orgulho, da amada. Talvez este ponto seja um dos que diferencia os homens das mulheres. A espera, em nosso caso, alonga-se por tempo maior, já que o desejo feminino costuma ser mais persistente no campo do amor. Às vezes até passa do ponto de renúncia e o cor de rosa acaba por se transformar em tom acinzentado pela submissão que muitas mulheres aceitam, infelizmente, em nome do tal amor.

Mas voltando à música... O que mais me surpreendeu foi pensar que Leila Diniz poderia ter mesmo dito que “homem tem que ser durão”... Será? Uma mulher tão à frente de seu tempo, que, nas palavras da antropóloga Mirian Goldenberg, “[...] fazia e dizia o que muitos tinham o desejo de fazer e dizer. Não à toa, ela é apontada como uma precursora do feminismo no Brasil, uma feminista intuitiva que influenciou, decisivamente, as novas gerações. Leila Diniz, ao afirmar publicamente seus comportamentos e idéias a respeito da liberdade sexual, ao recusar os modelos tradicionais de casamento e de família e ao contestar a lógica da dominação masculina, passou a personificar as radicais transformações da condição feminina (e também masculina) que ocorreram no Brasil no final da década de 60.”

Se ela disse ou não, tentarei descobrir o contexto. Mas, em minha opinião, perdem os homens que se fazem de durão para não ter que pensar na mulher que querem, de que modo querem e se vale a pena esperar por ela, ainda que tenham que lhe dizer do mal estar que sentem em estar nesta posição. Mas também perdem as mulheres que se dispõem a esperar eternamente, sem nenhum movimento para ir ao encontro do que querem, descobrindo, por sua vez, o que realmente querem. Nem sempre o prazer está só na relação de amor, ainda que esta acrescente muito em nossas vidas. Este amor é realmente muito bom, mas não pode ser só o que traz sentido à vida. Podemos descobrir momentos deliciosos paralelamente ao encontro amoroso, como ser pega de surpresa, no meio da tarde, por uma canção esquecida.

Confesso a vocês que, naquele carro, naquele instante, senti-me feliz por cantarolar com Erasmo enquanto esperava o sinal verde me permitir seguir meu caminho rumo à vida, que nos traz, entre tantas coisas, o amor!

Coqueiro Verde
Composição: Roberto Carlos / Erasmo Carlos

Em frente ao coqueiro verde
Esperei uma eternidade
Já fumei um cigarro e meio
E Narinha não veio
Como diz Leila Diniz
O homem tem que ser durão
Se ela não chegar agora
Não precisa chegar
Pois eu vou me embora
Vou ler o meu Pasquim
Se ela chega e não me vê
Sai correndo atrás de mim

7 comentários:

  1. Para quem quiser conferir a entrevista que a Leila Diniz deu ao Pasquim em novembro de 1969 e que causou sensação na época, vejam no endereço abaixo.

    http://www.semcortes.com/?p=131

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  2. Juliana, você pegou mesmo a veia do cronista que tem o cotidiano como matéria prima. Você sabe como pegar,dissecar e desenvolver isto. Vá em frente. Parabéns. Augusto.

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  3. Juliana, passei para te dar um oi. Obrigada por publicar o link da entrevista. Ia fazer outra coisa agora, mas vou embora ler o Pasquim e ver o que diz Leila Diniz. Homem durão, acho, é aquele que não tem medo e fica, corre atrás, briga, faz música e o que mais for necessário, sabe? e ele também é durão se vai embora, porque não tem mais música para fazer naquela história. não sei. estou viajando. Obrigada de novo, pela visita, pelas palavras e pelo post. Eu fico feliz que a lembrança da canção tenha te inspirado. É por isso que escolho músicas todos os dias. Inté, um abraço para você. Vivi

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  4. Muito bom quando a gente recebe visita de quem gosta. O Augusto, nem preciso dizer, é o dono do boteco que mais frequento atualmente, já que fui eleita comentarista oficial de seu blog.

    A Viviane Zandonadi tem um programa na CBN que adoro, o Turismo e Gastronomia, que vai ao ar de segunda à sexta, às 13:05hs. Ela abre o programa todos os dias com músicas que escolhe a dedo. E foi dela a lembrança do Coqueiro Verde, neste dia que descrevi acima.

    Pra quem quiser conferir o trabalho dos dois, os blogs estão listados aqui, na página principal.
    O blog da Viviane é o "Melhor do Brasil". Na página da CBN vocês também conseguem ouvir seu programa.

    Vale a pena saber mais sobre a idéia dos dois sobre lugares bons para se divertir, na companhia de um bom prato ou petisco.

    Agora, a coincidência do fim de semana.
    No blog do Augusto vocês poderão ver a foto de nosso encontro neste último sábado, com a presença ilustre do Jaguar, que passou por BH para o I Salão de Humor, aberto na Casa do Baile. E não é que ele também está presente na entrevista com a Leila Diniz, na época do Pasquim?

    Para as visitas, voltem sempre. Um prazer tê-los por aqui. Juliana.

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  5. Ju,

    Aaaddoorei! Como eu já tinha te falado, você tem o dom da escrita - "prima letra". E ainda canta! Ganham os amigos, ganham os pacientes, claro!
    E eu, ganho por acompanhar você estando longe, nem tanto, mas longe. Longe do barulho desse tipo de caos, pois como bem sabe, o caos pode estar em nós. Mas, das buzinas, com certeza. Quando quiser se inspirar em local silencioso, a Alecrim te espera de portas abertas! Saudade de você, amiga, de nossos papos e nossas "sessões"!

    beijos, com carinho

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  6. Para você ver como é a Internet: escrevendo sobre essa música encontrei sua crônica.

    Li e simplesmente tive que te dizer que adorei.

    Adoro essa música e esse tema: desencontro amoroso.

    Mas eu penso outras coisas quando ouço a música.
    Eu poderia começar a usar termos técnicos chatíssimos para dizer o que eu acho, mas prefiro ir no popular, bem ao estilo da música. Ele diz que esperou uma eternidade... Acho simplesmente que o cara não quer ser um banana, que ele quer uma mulher que o valorize, que lhe tenha respeito, enfim... Até porque mulher nenhuma quer um banana: se eu sei alguma coisa sobre as senhoritas é que, ao lado de um cara assim, vocês nem vêem ali um homem, vêem uma outra coisa... Aliás, homem também não quer mulher banana.

    Mas, o mais importante: parabéns pelo texto!

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  7. Oi Alexandre,
    obrigada por seus comentários.
    Parodiando os Titãs: "a gente não quer só amor, a gente quer respeito e cumplicidade" e um tanto de coisas a mais que tornam a relação muito melhor de ser vivida a dois.
    Você está certo.
    Volte sempre, um abraço, Juliana.

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