uma carta não enviada:
http://cartasnaoenviadas.com/?p=67
uma resposta a ser lida:
Ana Laura,
acabei de ler sua carta em um
site, por puro acaso, e não venha me dizer que não foram seus dedos longos que
digitaram as letras que vi dançarem na frente dos meus olhos enfurecidos...
...enfurecidos, sim, por você nos
expor assim, no anonimato, sem coragem nem pra assumir que preferiu fugir de
mim a viver o tal amor que você vive espalhando pelos bares da cidade, sempre
com a desculpa de que eu é que desisto de nós dois.
...enfurecidos, sim, por você me
deixar fazer planos, acreditar na sua vinda, na nossa vida, no meu sonho de dar
a volta ao mundo em muito mais que 180 dias, só pra prolongar o prazer de sentir
você perto de mim...
...entristecidos, sim, por ver
você transformar o pior momento que me atingiu como tragédia inesperada em
abandono, como se meu desespero em lidar com tudo aquilo num lugar longe do que
era um lar fosse um ato desmedido e irresponsável de deixá-la à deriva em mar
aberto, sem resgate...
...eu não “abandonei” você...não
se lembra do que combinamos? Eu simplesmente não conseguia me levantar um dia
sequer naqueles tempos e fiquei à sua sombra, pedindo que você cuidasse de mim,
e você não suportou ver um homem fragilizado em terras distantes. Combinou de
dar um jeito de voltarmos juntos e saiu um dia pela janela prateada, da casa de
pé direito alto, que quase tocava as nuvens, e desapareceu...e eu quase acabei
mesmo de enlouquecer...
Passei dois anos te procurando...e
em tantos lugares mais que “ruas”, “pontos de ônibus”, “programas de rádio” ou “novelas”,
como você listou em sua busca imaginária...te procurei em todas as entrelinhas
possíveis e impossíveis, em todas as cartas de amor não enviadas, em todos os
dias que terminavam e começavam, pra que a vida não se encerrasse sem a sua
descoberta.
Aí você vem dizer que voltei do
nada, pra nada, como um “afeto perdido”, como se assim se resumisse a nossa
história de amor.
Não sei pra quem você escreveu
tamanha mentira.
Pra mim, não foi...
Se você achava que “cartas não
enviadas” não chegam, quero te dizer que palavras chegam quando precisam dizer...
Não vou contar como chegaram. Só
vou contar que, agora, eu é que irei me retirar ao anonimato. Afeto perdido,
perdido está.
Sinto, Ana Laura, por este
desfecho. Não é nem de perto o que esperei pra nós dois. Mas fui...e, dessa
vez, sem endereço de correspondência!
ML
(da Série: "O amor de cada um", n.15)
ML
(da Série: "O amor de cada um", n.15)