sábado, 22 de outubro de 2011

O ponto final


...então fica assim, tu não me deve nada e eu não te devo nada, é isso, responde, to aqui te perguntando, é isso mesmo, não, porque se for, eu não to acreditando, viu, não to acreditando mesmo, to aqui achando que é brincadeira tua pra cima de mim, não to achando que é sério mesmo, não pode ser sério, tu nunca falou comigo desse jeito e nem quis simplificar nada desde que eu te conheço, ou tu tá se esquecendo de que quem sempre veio com essa mania de papo cabeça foi sempre tu, de que conversa faz aproximar, de que primeiro é preciso levar um lero, de que não dá pra ir chegando e ir beijando, ah, essa então foi bem no início, lembra, eu querendo muito beijar tua boca porque te vi e enlouqueci de vontade e na hora em que eu cheguei junto pra pegar de jeito, na vontade mesmo, tu olhou na maior seriedade e veio com a tal história de quem eu era pra chegar assim, que tu gosta de saber primeiro as idéia da cabeça da gente, que tu não fica por aí como se fosse manequim de vitrine que um chega e muda de lugar, muda os braço, muda as roupa, e eu tive que me concentrar muito nas palavra pra não enxergar só a boca mexendo dentro do meu olho que só queria parar de olhar pra fechar e sentir o gosto, mas não, tu encarnou naquele papo cabeça parecendo estudante de filosofia que quando começa com os argumento deixa a gente até doido de não entender nada, eu não tava era entendendo nada naquela hora ali, que papo era aquele, cara, que papo mais sem hora nem lugar de acontecer, se pra beijar ia rolar aquela porra, pra levar pra cama então não ia acontecer nunca porque eu não sou das universidade pra querer ficar nos diálogo por aí, mas bem que já tinham me falado que mulher já gosta de umas embromação de cabeça, universitária então faz a gente ficar com cara de otário, é aí que a gente acaba se rendendo mesmo pro tal do namoro, benzinho, tu me faz feliz, benzinho, me traz rosa que hoje é dia dos namorado, benzinho, eu vou ser tua pra sempre, benzinho, tu tá com ciúme “infundado” dos meus colega, ah, essa então foi duro de aguentar, o dia do tal do “infundado”, que tive que parar de brigar só porque não sabia o que era isso, e não queria mostrar que não entendi, e posso falar aqui mais de cento e setenta e sete idéia que tu levou na minha cabeça pra me deixar mais e mais na tua mão e agora tu me vem falando que não tem conversa, que não vai me ouvir, que não tem que se explicar, que a nossa conta tá acertada, que é pra eu dar a volta e não olhar pra trás, que ninguém deve mais nada pra ninguém, e tá achando que tu vai se safar dessa só porque eu fiz antes, porque tu ficou sabendo do meu caso com a Malu e entendeu minha carência, sei lá que porra de carência é essa palavra que tu tá usando só pra me enrolar mais uma vez e tá achando que eu vou por ponto final nessa frase, tá maluca, tá me achando com cara de corno manso, tá achando o caralho a quatro, tá achando que amor comigo é diferente da galera que é macho de verdade, tá achando o que, tá se achando, tá, então tá, taqui o ponto final que tu me pediu, taqui, ó, ah, mudou de idéia, lindinha, mudou, querendo mais não, ah, pedindo pra eu te dar umas reticência, que isso, querendo é ganhar tempo, sua vadia, mas agora é que eu vou por ponto final mesmo, agora é que tu vai ver como é que eu sempre te obedeci, agora que tu vai ver como eu aprendi português certinho, tu não vivia reclamando, me falando pra eu ler mais, pra aprender a pontuar as frase, usar tempo de vírgula no palavreado rápido que tu dizia que era tão rápido que não conseguia acompanhar minhas frase de maluco, então, vou te dar o ponto final na frase que tu sempre me pediu, me encheu o saco com esse tal de português correto, ponto final pra acabar com tudo de vez, com esse palavrório, com sua cara de vingada depois que passou a noite com o vizinho do condomínio do seu bairro metido a besta, pra acabar com a dor que tu colocou aqui bem no meio do meu peito que tá doendo que nem quando eu levei um murro de um colega quando eu ainda ia em alguma escola nessa vida, e que eu nunca mais esqueci porque fui embora chorando e apanhei mais ainda do pai porque levei calado e foi dessa vez que aprendi que nunca mais, viu, nunca mais eu ia levar calado, e tu achou, porque eu sempre fiquei atrás que nem idiota, tu achou que eu ia aceitar um negócio desse sem falar nada só porque eu nunca quis ficar de conversa quando tu vinha com os lero porque meu negócio nunca foi conversar, mas tu errou feio, gata, tu errou, e agora eu to aqui na maior vontade de, sabe o que, sabe o que, de te ferrar que nem bala perdida, isso mesmo, de acabar com essa metideza sua de palavreado difícil, de fazer tu calar pra sempre, pra sempre mesmo, sem direito nem de voltar em sessão espírita pra dar notícia pra ninguém, nem pra sua mãe, aquela imbecil que tentou de tudo pra acabar comigo, nem pra ela, que vai morrer junto se souber que tu passou pro andar de cima, capaz de me procurar ajoelhada e pedir pelo amor de Deus pra eu casar com tu e deixar essa história de vingança de lado, de que ela sempre me aceitou, que tu tava certa de se arranjar comigo porque tenho futuro mesmo e que não é pra eu estragar isso me metendo na cadeia, que ainda tem muita água pra rolar entre tu e eu, que isso, que aquilo, tu quer ver, tá escutando as sirene, eu sabia que logo ela ia fazer isso, aquela perua com cara de rainha que se acha mais que tudo, só porque economizou um pouco na vida e mandou a filha estudar as letra pra ensinar português, e ficou sonhando que tu ia se casar com advogado rico, eu sabia, mas todo mundo tá achando que não vai ter ponto final, que eu é que vou me ferrar, todo mundo, pois aqui, ó, taqui, taqui pra tu nunca mais dizer que eu não fiz o que tu me pediu e nem que eu não sei escrever direito, taqui, porque toda frase acaba com o ponto final, né isso, neguinha, então olha pra mim, ó, olha bem, ta olhando, ta olhando, então taqui, sua burra, achou que se soubesse português ia se safar nessa vida, tu é muito é burra mesmo, fez burrice comigo, que pra mim português não vale nada, mulher minha tem é que ter conduta, não teve, se ferrou, emburreceu, e agora vai ter o que tu merece, era as pontuação que tu queria, é, sua professora de merda, então taqui, ó, olha bem pra mim com essa cara de apavorada, olha, porque ponto final que nem esse tu nunca mais vai ver e nem pedir, olha bem, escuta o barulho das sirene que não vai chegar ninguém no tempo, ninguém pra ver tu ganhando esse ponto final, taqui, meu benzinho, taqui, ó, taqui seu maldito ponto final.

(da Série: "O amor de cada um", n.12)



sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O amor de sempre em quando

Então, depois de setembro e as flores da primavera, chegou outubro...e hoje acordei pensando no amor, em como ele se apresenta das mais variadas formas, em letras que acabei usando pra falar sobre “O amor de cada um”, e assim vou tecendo uma colcha de pequenas histórias, muitas inventadas, pra registrar encontros, desencontros, enganos, rasgos de felicidade, fantasias, momentos de desesperança, traços de loucura, noites de amor intenso, alegrias e surpresas que o sempre amor nos traz...

...não sei viver sem amor...em tudo o que faço, penso, ouço, escrevo, canto, ouso, trabalho...

...por isso, deixo Adélia Prado falar por mim,

Amor é a coisa mais alegre
amor é a coisa mais triste
amor é coisa que mais quero.
Por causa dele falo palavras como lanças.
Amor é a coisa mais alegre
amor é a coisa mais triste
amor é coisa que mais quero.
Por causa dele podem entalhar-me,
Sou de pedra sabão.
Alegre ou triste,
amor é coisa que mais quero.
(O sempre Amor/Adélia Prado)



...e ainda pensando em poemas, um pouco de Drummond,

Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.


Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
Reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.
(Não se Mate/(recorte) – Carlos Drummond de Andrade)


...e como amor e música estão onde me encontro, acabo meu passeio de hoje desejando ouvir “Anuário”, que me faz pensar que o amor é de cada um, e que se mostra pra cada um em um mês qualquer, em um momento qualquer, de um jeito qualquer, e que é preciso saber recebê-lo sempre, em que tempo for...

“Setembro sempre
Me encontrou solteiro
Depois outubro amor involuntário”
(Anuário/Sérgio Santos e Paulo César Pinheiro)

http://www.radio.uol.com.br/#/letras-e-musicas/alda-rezende/anuario/31494