domingo, 21 de novembro de 2010

"Se tudo pode acontecer"



...desde menina ela tinha a mania de acreditar que qualquer coisa que imaginasse pudesse acontecer...brincava, então, com isso...fechava os olhos e via o avô chegar, nas manhãs de domingo, pra chamá-la pra passear pela cidade...e ela ia, sentindo o vento soprar os ares de felicidade em seu rosto, enquanto o carro explorava as ruas dos bairros vizinhos e o vento entrava pela janela, que naquela época podia estar aberta o tempo todo, por isso as surpresas surgiam muito mais do que agora. A distração, da janela do carro, também era outra, naqueles tempos. Havia movimento de verdade e ela podia pedir o avô pra parar, podia descer, podia ir olhar de perto qualquer coisa que visse na rua e que despertasse sua curiosidade.

...desde menina foi curiosa com a vida...cresceu assim, com os sentidos tão abertos que nem sempre cabia tudo dentro dela...aprendeu a dar forma às coisas que recolheu durante os passeios com o avô e com os que vieram depois compartilhar do seu jeito de descobrir o mundo, pra ter diante dos olhos suas lembranças e descobertas...

...continua brincando de imaginar que tudo pode acontecer...todo mês, quando a lua cresce diante dos seus olhos e arredonda um pedaço do céu, finge que o céu se tornou dela e que a lua está ao seu alcance...e que se olhar pra lua cheia com muita vontade, qualquer coisa que pensar, vai acontecer...qualquer coisa...até encontrar na superfície da lua um grão de amor, que ela vai recolher e levar pra casa, como fazia nos passeios de sua vida de menina.
(da Série: "O amor de cada um", n.6)  



Se tudo pode acontecer/ Arnaldo Antunes



Grão de amor/ Arnaldo Antunes

2 comentários:

  1. Não duvido de que as coisas sonhadas assim, de coração e olhos abertos, possam de fato acontecer. Foi bom me lembrar disso. Um beijo

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  2. Beijo pra você, Iêda, que quero ver de verdade antes de 2010 acabar. Vamos fazer acontecer? Ju.

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