nada, amor, nada...adianta não você querer saber o que tenho, tenho nada, só quero poder me silenciar um pouco...às vezes é preciso...
....ele insistia
em saber tudo sobre ela, o gosto, o pensamento, o dia, a noite, a madrugada de
sono, se houve, ou se houve vigília foi por que, ou por quem, que na verdade
era esse o medo que o acompanhava, o que poderia ocupar o pensamento daquela
mulher que não ele...
conheceram-se há
pouco mais de um ano, ela interessada em aprender novidades, ele entediado em
ensinar e cansado dos mesmos alunos desatentos, sua presença curiosa logo lhe
despertou atenção...quem seria a moça que não largava o olhar de tudo o que ele
dizia?
em pouco tempo
as aulas se prolongaram em conversas de corredor, fazendo depois o caminho
conhecido que o amor toma quando está se iniciando, o passeio tímido pelos
bares da cidade, o jantar apreensivo com jeito de firmar compromisso, o beijo
desejado, o encontro dos corpos, as juras eternas, amém...
não tinham
presente que os impedissem de nada e o amém se transformou rapidamente em cotidiano,
cama dividida no apartamento dele porque os livros eram tantos que não podiam
se mudar dali...no início uma festa, como sempre há festa no início do
amor...ela feliz com as atenções dele, o carinho dele, a presença dele, mesmo
às vezes achando que pareciam um pouco demais...mas vinha de um passado de
descasos juvenis que pensava que a maturidade fazia homens diferentes dos que
conhecera, então foi se deixando levar...feliz estava e assim pretendia
continuar...
era essa a
promessa de um futuro que ela desejava...nunca imaginou nada muito sério em
idade de descobertas mas se entregou sem muitas dúvidas porque sempre foi de
pensar que a vida não pede muito adiamento das coisas, senão ela passa rápido
demais e não espera os planejamentos.
o problema foi
quando começaram as perguntas...eram algumas que viraram outras, que viraram
muitas e acabaram em tormento diário pra alguém que não pensava em nada mais a
não ser passar o tempo ao lado de um amor tranqüilo...
respondia muito
no início, respondia pouco com o passar dos dias, respondia nada quando
entendeu que dono era o que ele queria ser dos dias livres que sempre foram
dela...
o silêncio virou
razão pra briga, a briga virou passagem pro medo, o medo virou sinal de que ela
teria que sumir...
sumiu...sem
deixar bilhete, sem deixar lembrança, sem deixar carinho espalhado pela casa
porque este acabou com os gritos dele...
soube depois que
não foi a primeira...mas que foi a única que teve a coragem de buscar estrada além
daquele amor de posse...
(da Série: "O amor de cada um", n.18)
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