...agora nada que ele dissesse ou fizesse poderia trazer
alegria de volta ao seu coração, pensou...
...ficou olhando de soslaio, enquanto descobria a traição
ali, bem debaixo da árvore onde costumavam se esconder...
...contou um, três, oito, dezesseis, esqueceu de como
continuar e desistiu de contar...os minutos podem ficar lentos, às vezes,
concluiu, já que os números contados não finalizaram a cena...
...aflição, afliçãozinha, afliçãozona, vou embora antes que
me vejam, vou jogar fora todos os presentes que ganhei no verão, no outono, no inverno,
esperando essa primavera de choro chegar...
...correu pra sala de aula...escondeu-se na última cadeira,
encostada na parede, onde uma janela verde convidava pra fuga em caso de emergência...
...então ele chegou atrasado, com cara de não fiz nada,
trazendo ramalhete de flores pequenininhas e coloridinhas e correu pra onde ela
se encontrava pra lhe entregar...
...surpresa com o acontecido, ela pensou duas vezes se
recusava, mas não resistiu e com tristeza de menina enganada, perguntou-lhe
como foi capaz de levar a professora pro esconderijo deles, no primeiro dia da
primavera...
...sem entender o tom de mágoa, radiante com o feito, explicou-lhe
que alguém teria que ajudá-lo a combinar as flores do jeito que as meninas
gostam, e que só lá no jardim, perto da árvore, conseguiram reunir tantas e
belas...
...com o alívio estampado no sorriso, ela aceitou o mimo de
chegada da primavera e entendeu, pela primeira vez, que outros enganos viriam
ao olhar e que, nessas horas, palavras trazem calmaria ao coração...
...mais um dia de aula...ventos de afeto levando prá longe nuvens
de poeira que teimam em cercar as histórias de amor, desde muito cedo...
(da Série: "O amor de cada um", n.11)
(da Série: "O amor de cada um", n.11)